Trabalho e carreira

Mudar de carreira: como se preparar financeiramente

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Rapariga pensa em estratégias para financiar uma mudança de carreira

A falta de recursos financeiros é, muitas vezes, um obstáculo para encontrar a realização profissional, já que pode ser necessário algum investimento para mudar de carreira.

Há, no entanto, formas de conseguir o financiamento necessário para, de uma vez por todas, deixar de fazer o que não gosta e dedicar-se a uma atividade que lhe traga reconhecimento e satisfação.

Se está a pensar encontrar emprego noutra área e iniciar a sua reconversão profissional, saiba como preparar as finanças para esta nova etapa da sua vida.

Quais os desafios de mudar de carreira?

A mudança de carreira implica repensar hábitos e rotinas, trocar de local de trabalho e colegas, perder a segurança de algo que se conhece. 

Obriga, também, ao reskilling, isto é, à aquisição de novas competências, o que exige uma atualização de conhecimentos e a aposta em aprender.

Embora a formação seja um investimento do qual se espera retorno – como conseguir um emprego que lhe proporcione mais satisfação e um salário melhor – nem sempre é fácil encontrar uma forma de financiar os cursos ou formações necessárias para avançar.

Quer mudar de profissão? Comece por fazer contas

Quando se pondera uma transição profissional, é importante perceber que é algo que não acontece de um dia para o outro.

A mudança de carreira tem de ser planeada para ter a oportunidade de investir financeiramente por exemplo numa licenciatura, pós-graduação ou mestrado.

Assim, o primeiro passo é avaliar a situação financeira atual. Qual é o estado das suas finanças? Quais são as despesas fixas e qual o rendimento disponível? Qual é a taxa de esforço dos seus créditos em relação aos ordenados? Isto é, que percentagem dos rendimentos é necessária para pagar prestações de vários empréstimos? 

O passo seguinte é perceber quanto lhe vai custar o curso ou formação que pretende fazer e se consegue encaixar essa despesa no seu orçamento.

O planeamento financeiro da mudança de carreira passa também por ter uma ideia de quanto poderá ganhar no futuro emprego e quais os benefícios – como seguro de saúde ou carro da empresa – que costumam estar associados a essa atividade. Se for uma área em que são necessários estágios ou em que o ordenado inicial é baixo, inclua nas suas contas uma almofada financeira para esses primeiros tempos.

Preparar o orçamento para a mudança profissional

Ao fazer contas é possível que tenha percebido que terá de reajustar o seu orçamento para acomodar as despesas com a formação, o que inclui, por exemplo, propinas, um computador ou deslocações para as aulas.

Há duas formas de tornar o orçamento familiar mais ajustado à nova realidade: cortando despesas ou aumentando os rendimentos. Em qualquer dos casos, é fundamental tomar as decisões em conjunto com as pessoas com quem partilha a vida familiar.

Deve, também, deixar uma margem nos seus gastos para ir fazendo uma poupança, de forma a precaver qualquer despesa imprevista, como uma avaria no carro. O ideal é ter um fundo de emergência que dê para pagar as despesas fixas de três ou seis meses, mas qualquer poupança, mesmo pequena, é importante.

Cortar nas despesas

Conseguir financiar um curso para mudar de carreira pode trazer alguns sacrifícios. Se precisa mesmo de reduzir despesas, comece por cortar nos serviços que paga, mas não usa, como a mensalidade do ginásio onde nunca vai ou uma subscrição de streaming que não tem tempo para ver.

Renegociar as despesas fixas, como a prestação do crédito habitação ou a fatura da eletricidade ajuda a conseguir uma poupança significativa. A consolidação de créditos (juntar todas as prestações numa só, mas mais baixa) é outra forma de poupar dezenas ou centenas de euros por mês.

Comprar marcas brancas, preparar as refeições para levar para o emprego e deixar de usar o cartão de crédito são igualmente contributos para reduzir as despesas mensais e ter mais dinheiro disponível para investir na sua formação.

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Antes de cortar nas despesas de forma indiscriminada, pense no custo/benefício. Por exemplo, não faz sentido deixar de andar de carro se vai precisar dele para ir do trabalho para as aulas, ou desistir do seguro de saúde se o usa com frequência.

O melhor será criar um orçamento mensal, tendo em conta as suas necessidades, que pondere  rendimentos e despesas e um limite de gastos. Depois, evite exceder esse limite. Ou, se exceder num mês, compense com mais poupança no seguinte.

Aumentar rendimentos

A ideia de encontrar um segundo emprego para ajudar a pagar o curso superior ou formação profissional até pode parecer boa, mas há que ser realista. É improvável que, entre o seu trabalho habitual e as aulas, consiga encontrar tempo para outra atividade.

Assim, se precisa mesmo de encontrar forma de ganhar mais dinheiro, pondere uma atividade que possa exercer aos fins de semana ou com alguma flexibilidade de horários. Ou, caso seja possível, faça horas extraordinárias no seu atual emprego.

Vender roupa, móveis e eletrodomésticos que já não usa é outra forma de amealhar algum dinheiro. Rentabilizar um hobbie – como pintar ou fazer bolos – também ajuda a ter mais algum rendimento ao fim do mês.    

Como financiar a mudança de carreira?

O financiamento para a reconversão profissional não tem de ser proveniente de uma única fonte. Pode, por exemplo, usar uma parte das suas poupanças e fazer um crédito formação, ou usar o subsídio de férias para pagar as propinas.

O mais importante é que o investimento necessário para a formação não desequilibre o seu orçamento nem seja motivo de stress acrescido na sua vida diária.

Recorrer a poupanças

Se conseguiu algumas poupanças, pode usar uma parte para pagar as despesas relacionadas com a educação.

Em alguns casos esta opção poderá implicar a perda da “almofada financeira” para enfrentar uma situação de quebra de rendimentos ou uma despesa avultada e inesperada. Por isso, o ideal é preservar um fundo de emergência que permita pagar as despesas fixas de um período entre três e seis meses.

Também é possível resgatar o PPR sem penalizações se o objetivo for tirar um curso superior. No entanto, ao usar este dinheiro, estará a esvaziar as suas poupanças para a reforma, o que poderá também não ser uma boa opção a longo prazo.

Fundos e apoios à reconversão profissional

O recurso a formações financiadas é outra forma de conseguir aumentar as competências e ainda receber algum apoio monetário.

Embora muitas destas formações tenham como destinatários desempregados, o IEFP também disponibiliza algumas ações em horário pós-laboral destinadas a pessoas que querem aumentar as suas qualificações. As formações modulares certificadas decorrem em vários pontos do país e algumas são ministradas à distância.  

O cheque formação + Digital é outra forma de financiar a aquisição de competências relacionadas com tecnologia. Consiste num apoio máximo de 750 euros por destinatário e por ano atribuído a quem frequentar ações de formação em entidades formadoras certificadas.

As skills relacionadas com o mundo digital são cada vez mais importantes para  qualquer área de atividade, pelo que será sempre uma oportunidade de enriquecer o seu currículo e obter mais ferramentas para encarar uma mudança profissional.

Financiamento bancário

Se precisa de ter meios para financiar um curso superior, pode ser necessário um investimento maior. Neste caso, o recurso ao crédito formação é uma opção a ter em conta.

É possível obter um crédito para valores até 20 mil euros, beneficiando de condições mais vantajosas (como uma taxa mais reduzida) do que num crédito pessoal normal. O crédito formação tem taxas fixas, o que permite saber quanto vai pagar por mês durante todo o empréstimo. O período de reembolso vai de 24 a 84 meses (dois a sete anos) dependendo do valor solicitado e das condições que escolher para financiar a sua mudança de carreira.