Crédito consolidado: uma solução de poupança mensal
O crédito consolidado é uma possível solução para os casos em que existem vários empréstimos e em que o peso das prestações é tão elevado que pode levar ao incumprimento. Como os créditos são reunidos num só, a despesa mensal desce, aliviando o orçamento.
Mas será esta a melhor opção para todos os casos? Quais são as condições de acesso? E quais os cuidados a ter antes de escolher a consolidação de empréstimos? Num assunto tão importante para as suas finanças, é normal que existam dúvidas. Temos as perguntas e respostas necessárias para que tome uma decisão mais informada.
O que é o crédito consolidado?
O crédito consolidado é uma das formas de evitar o incumprimento, ou seja, procura criar condições para que as prestações de vários créditos continuem a ser pagas. Consiste na junção de vários empréstimos num só. Ao optar por este regime, pode juntar o crédito da casa, do carro, das férias e o cartão de crédito e fica apenas com uma dívida resultante da soma de todos os valores.
A iniciativa de avançar para a consolidação de empréstimos pode partir do cliente bancário – que contacta uma instituição de crédito e propõe esta solução – ou da própria entidade financiadora. É uma das medidas previstas no âmbito do PARI – Plano de Ação para o Risco de Incumprimento.
Através da consolidação, as dívidas, mesmo que correspondam a bancos diferentes, passam para uma única instituição de crédito, que vai pagar todos os seus créditos aos diferentes bancos.
Depois, o cliente fica com apenas uma prestação, uma taxa de juro e uma data para cobrança da mensalidade.
É possível agregar vários tipos de créditos e prolongar os prazos de reembolso. Se, por exemplo, juntar o crédito habitação com o crédito automóvel, pode fazer o pagamento do empréstimo do carro em 15 anos, em vez dos 10 habituais. Ainda assim, é importante perceber que quanto mais longo for o prazo de reembolso, mais caro ficará o crédito: isto é, o carro vai custar mais.
Existem duas modalidades de crédito consolidado: com ou sem hipoteca.
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Quais são as regras?
O acesso ao crédito consolidado depende de algumas condições, sendo a principal ter mais do que um empréstimo e não ter prestações em atraso. Ou seja, se existir incumprimento, já não é possível pedir uma consolidação. Neste caso, a solução pode passar por regularizar o incumprimento e, uma vez resolvida essa situação, consolidar os créditos existentes.
As condições de acesso variam de acordo com a instituição financeira que vai fazer a consolidação, ou seja, que vai ficar com a totalidade da dívida. No entanto, há requisitos que se aplicam a praticamente a todas e que têm a ver com a idade do cliente (quanto mais velho, mais difícil será obter aprovação) e com a sua situação profissional. Ou seja, se o candidato não tiver um emprego estável, existe maior risco de incumprimento e o pedido para consolidar pode ser negado.
Na avaliação de solvabilidade (isto é, da capacidade cumprir os compromissos financeiros), uma taxa de esforço acima dos 35% pode constituir um obstáculo à aprovação.
Caso exista um fiador ou outra garantia (como um imóvel), a negociação é facilitada.
O crédito consolidado tem de ser feito com o seu banco?
Não necessariamente. É possível juntar créditos de várias instituições financeiras e obter a consolidação noutra, que até pode não ser um banco, mas tem de ser uma entidade autorizada pelo Banco de Portugal.
Por isso, se pretende consolidar créditos, é possível contactar várias entidades, simular valores e escolher a que oferece melhores condições.
Quais as vantagens do crédito consolidado?
Uma das principais vantagens do crédito consolidado é a redução do montante a pagar mensalmente pelos empréstimos. Ou seja, o valor da prestação mensal a pagar por todos os créditos é mais baixo do que a soma de todas as prestações que pagava anteriormente. Assim, poderá conseguir uma poupança significativa e o impacto dos créditos nas despesas mensais será menor.
Como existe um aumento do prazo de amortização (exceto no crédito habitação) e a junção de todas as despesas relacionadas com créditos (como comissões ou seguros) concentram-se numa só, a mensalidade é mais baixa e o dinheiro disponível (liquidez) aumenta.
Por outro lado, passa a existir só uma data para a cobrança da prestação, em vez de várias ao longo do mês. Desta forma, é possível manter maior controlo sobre as finanças.
Caso o crédito consolidado tenha uma taxa fixa, esta gestão é ainda mais eficaz, já que o valor da prestação é estável e não é afetado por um eventual aumento das taxas de juro.
A opção pelo crédito consolidado é, por isso, uma solução para fazer face a uma quebra de rendimentos ou a um período em que os juros estão constantemente a subir, aumentando as prestações dos créditos. Ao consolidar estará a reduzir o risco de entrar em incumprimento.
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Quais são as desvantagens?
Ao optar pelo crédito consolidado com alargamento do prazo de reembolso estará a aumentar o valor da dívida, uma vez que vai pagar juros durante mais tempo.
Também é importante ter atenção ao tipo de taxa de juro: se for variável, pode sofrer o impacto de eventuais subidas, o que vai aumentar o valor da prestação mensal.
A consolidação implica a realização de um novo contrato de crédito com a instituição financeira, o que tem custos, como os registos e o imposto do selo.
Ao consolidar terá de amortizar totalmente (pagar) os créditos anteriores, o que também tem custos. No crédito habitação, a comissão de amortização pode chegar a 0,5% do capital amortizado nos contratos com taxa de juro variável e a 2% se tiver taxa fixa. Até 31 de dezembro de 2024, o cliente está isento do pagamento desta comissão nos contratos de crédito à habitação para aquisição ou construção de habitação própria permanente com taxa de juro variável.
Nos créditos pessoais, não pode ser cobrada comissão de amortização se a taxa de juro for variável. Caso o empréstimo tenha uma taxa fixa, os limites são:
- 0,5% do capital reembolsado, se faltar mais de um ano para o fim do contrato;
- 0,25% se faltar um ano ou menos para o fim do contrato.
Como aderir ao crédito consolidado?
Para aderir ao crédito consolidado deve contactar uma instituição financeira que preste este tipo de serviço. Em alguns casos é possível fazer simulações, para perceber quanto pode poupar e efetuar o pedido online, preenchendo um formulário.
Para que a entidade financiadora avalie a sua situação financeira, terá de enviar alguma documentação, como por exemplo:
- Um comprovativo de morada atual
- Comprovativo de IBAN
- Comprovativo de rendimentos (nota de liquidação do IRS, últimos três recibos de vencimento ou declarações de prestações sociais que esteja a receber)
- Mapa de Responsabilidades de Crédito do Banco de Portugal (veja aqui como obter)
- Comprovativos de dívida dos créditos a consolidar
Depois de enviar os documentos pedidos, a instituição de crédito vai analisar as informações e dar-lhe uma resposta.
O que ter em conta antes de avançar para a consolidação?
O principal facto a que deve ter atenção é que só é possível consolidar créditos que não estejam em incumprimento. Por isso, se já tem prestações em atraso, informe-se junto da entidade credora sobre as soluções possíveis, como o PERSI (Procedimento Extrajudicial de Regularização de Situações de Incumprimento).
Se está a sentir dificuldades para pagar as prestações de crédito, informe a instituição financeira (ou as várias, se os empréstimos tiverem diversos credores), de forma a perceber se a consolidação é a melhor solução para o seu caso ou se há outras opções mais vantajosas (como o alargamento do prazo de reembolso ou mudança para uma taxa de juro fixa).
Caso opte pela consolidação, compare várias propostas e veja qual é a que tem TAEG (taxa anual de encargos efetiva global) mais baixa. Compare também várias opções para prazos de reembolso, tendo em conta que, quanto maior for a duração do empréstimo, mais caro fica o crédito.
Outro dado a que deve dar atenção é a taxa de esforço: após a consolidação, qual é percentagem do seu rendimento que será usada para pagar a prestação de crédito? Este é um número importante, porque se gastar mais de 35% do orçamento familiar em empréstimos, o risco de incumprimento mantém-se.
Se já tem um histórico de incumprimento, será mais difícil o acesso ao crédito consolidado, dado que estas situações ficam registadas na Central de Responsabilidade de Crédito do Banco de Portugal (a chamada “lista negra” do Banco de Portugal), que é consultada pelas entidades financiadoras.
Qual é a diferença entre consolidar e renegociar?
Uma renegociação implica a alteração de uma ou mais condições de um contrato de crédito. Baixar o spread, alargar o prazo de reembolso ou alterar o tipo de taxa de juro são exemplos de mudanças que ocorrem no âmbito de uma renegociação.
A consolidação consiste em juntar vários créditos, o que significa que os créditos anteriores são pagos e vai ser feito um novo contrato.
O pedido de crédito consolidado afeta o histórico de crédito?
Não, porque o crédito consolidado não deriva de um incumprimento. As únicas situações que podem comprometer a possibilidade de contrair novos créditos são as que estão relacionadas com o não pagamento de prestações. No entanto, se avançar para a consolidação de créditos e falhar pagamentos, estará a entrar em incumprimento e esse facto ficará registado na Central de Responsabilidade de Crédito do Banco de Portugal.