Crédito

Fim das moratórias: é altura de consolidar créditos?

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Fim das moratórias

As moratórias públicas e privadas ao crédito foram a única solução para milhares de famílias e empresas portuguesas fazerem face às despesas numa altura em que os rendimentos baixaram ou, em alguns casos, se tornaram inexistentes, devido à pandemia de Covid-19.

Apesar de um novo prazo para pedir as moratórias ter sido iniciado este ano, até 31 de março – havendo muitos pagamentos que só voltarão a ser feitos em setembro ou no final de 2021 -, cada vez mais famílias estão já a ser confrontadas com o regresso dos pagamentos a bancos e instituições financeiras. É altura de pensar em soluções e, uma delas pode ser a consolidação de créditos.

Mais pessoas com mais do que um crédito

Segundo os dados do Banco de Portugal (BdP) para o primeiro período em que se podia recorrer às moratórias, até 30 de setembro de 2020, houve mais de 800 mil pedidos de adesão, representando créditos totais de 46 mil milhões de euros. A maior parte do valor (24,4 mil milhões de euros) dizia respeito a empresas, mas a maior parte das moratórias concedidas (71%) teve como destino as famílias.

Outros dados do BdP, noticiados pelo jornal Público, indicam também que houve muitos pedidos de moratória por pessoas ou famílias com mais do que um crédito e instituição. “Os devedores que recorreram à moratória têm, em média, cinco contratos de crédito e três relações bancárias”, revelava o documento citado pelo jornal. Já os clientes de crédito que não recorreram a qualquer moratória tinham menos prestações mensais e usavam menos  bancos ou instituições.

Ao todo, ainda com base apenas nos dados do primeiro período de adesões, 17% dos créditos à habitação ou pessoais foram abrangidos por moratórias:

Por outro lado, 51% dos aderentes a moratórias só as usaram para o crédito à habitação; 20% só pediram moratória de crédito pessoal; mas 22% recorreram a moratórias para mais do que um financiamento.

Podemos agora consolidar créditos?

Na verdade, a consolidação de créditos sempre foi uma opção, mesmo como alternativa aos pedidos de moratória pública ou privada. E pode sempre ser vantajosa em muitas situações que não estão diretamente ligadas com dificuldades em fazer face às despesas. No entanto, muitas famílias enfrentaram e continuam a enfrentar situações em que a quebra de rendimentos foi de tal ordem que só a suspensão do pagamento das prestações lhes permitiu ultrapassar as dificuldades.

Com o fim das moratórias públicas e privadas, quem tiver os rendimentos estabilizados deverá voltar aos pagamentos do crédito sem grandes problemas. Mas há situações em que não só a utilização das moratórias ao crédito foi integralmente para pagar as despesas do dia-a-dia, como a quebra de rendimentos pode continuar a afetar o orçamento. Além de procurar outras maneiras de poupar, uma forma de reduzir as mensalidades passa por consolidar créditos.

Quem tiver mais do que um crédito, em mais do que um banco ou instituição financeira, pode negociar o pagamento conjunto desses valores num só, com uma mensalidade e prazo apenas. O crédito consolidado simplifica os pagamentos, que passam a ser feitos a uma instituição apenas.

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Vejamos o caso do João, 40 anos, que tem três créditos pelos quais pagava 700 euros por mês, devendo 15 mil euros a três instituições:

O João, com um emprego estável como designer e um part-time a fotografar casamentos, até suportava bem estas despesas. Pediu moratória porque teve redução de horário de trabalho (com efeitos no salário) e deixou de ter pedidos para casamentos. Chegado o fim das moratórias privadas, o João continua sem o salário completo, e sem casamentos para fotografar.

Consolidar créditos e alargar o prazo foi a solução para os seus problemas:

  • Valor a pagar: 15.000 euros
  • Prazo: 48 meses
  • TAN: 10,90%
    TAEG: 13,0%
  • Mensalidade: 390,14 euros
  • MTIC: 18 990,72€

Ao juntar os créditos e alargar um pouco o prazo, o João baixou a mensalidade. Concentrou todos os créditos e taxas de juro numa só, e nem teve de se preocupar com os pagamentos às outras instituições.

E se o prazo das moratórias voltar a aumentar?

Vários partidos políticos e personalidades manifestaram-se já a favor de uma nova extensão das moratórias ao crédito, preocupados com o efeito do regresso aos pagamentos numa altura em que a pandemia ainda paira sobre as contas de famílias e empresas. Caso isso venha a acontecer, muitas pessoas com uma situação financeira ou profissional frágil podem voltar a pedir a suspensão de pagamentos, mas a consolidação de créditos permanece como opção.

Quem tiver vários créditos e rendimentos reduzidos, mas não drasticamente, pode optar pela consolidação como forma de baixar o valor das mensalidades a pagar. Assim, além de simplificar a gestão das prestações, mantém de alguma forma esses pagamentos, em vez de os suspender totalmente, o que implica mais tempo ou mensalidades mais elevadas para pagar esses créditos.

Mas um crédito consolidado não traz problemas com os bancos?

Antes pelo contrário, consolidar créditos é uma forma de centralizar as suas prestações, simplificando a sua vida e o seu orçamento mensal, e até pode ajudar se necessitar de pedir um novo empréstimo mais tarde. A consolidação de créditos não é uma medida de último recurso, para pessoas sobre endividadas, esse é um dos mitos que convém combater.

Negociar um crédito consolidado é até uma solução para antecipar problemas financeiros futuros. É uma opção que pode sempre ser considerada ao longo da vida, pelo menos quando somos confrontados com a necessidade de pedir financiamento para pagar coisas distintas, seja o carro, as obras da casa, o cartão de crédito ou a viagem que fizemos em família depois de todas as restrições provocadas pela Covid-19.

Em suma, com o fim das moratórias, faça as contas aos seus créditos, aos seus rendimentos e ao seu orçamento, e veja se um crédito consolidado não o pode ajudar a ter uma folga mensal. Veja também outras dicas para se preparar para o fim das moratórias e em que situações ainda as pode pedir. Acima de tudo, não se esqueça que há sempre solução para as dívidas e que entrou em vigor um novo apoio para situações de sobre endividamento.