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Avaliação financeira: registos a manter para avaliar o ano

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Dama de Ouros
Avaliação financeira: registos a manter para avaliar o ano

O início de cada ano é a altura em que, normalmente, estabelecemos metas e resoluções para as diferentes áreas das nossas vidas. Entre as mais comuns, estão:

  • Finanças: poupar dinheiro, pagar dívidas ou começar a investir;
  • Saúde e atividade física: fazer exercício físico, melhorar os hábitos alimentares ou perder peso;
  • Carreira: adquirir novas competências, conseguir uma promoção ou mudar de emprego;
  • Relacionamentos: passar mais tempo com a família e amigos ou conhecer novas pessoas;
  • Desenvolvimento pessoal: ler mais, descobrir um novo hobby ou meditar;
  • Estilo de vida: viajar, organizar a casa ou reduzir hábitos de consumo.

Mas para aumentar a probabilidade de sucesso, não basta só definir metas. É preciso traçar um plano e objetivos claros. 

Por exemplo, dizer que este ano quer melhorar a sua vida financeira é um objetivo pouco específico. É importante saber que passos deve seguir e ter indicadores que lhe permitam saber se está a cumprir o plano definido e, no final, se conseguiu alcançá-lo com sucesso.

A importância de definir objetivos

O método SMART é extremamente útil para assegurar metas concretas e alcançáveis. Este propõe que todos os objetivos devem ser: 

  • S (specific/específico): claros
  • M (measurable/mensurável): quantificáveis
  • A (attainable/atingível): realistas
  • R (relevant/relevante): alinhados com as prioridades pessoais
  • T (time-bound/temporal): com prazos definidos para conclusão

No contexto das finanças pessoais e objetivos financeiros, seguir a metodologia SMART implica responder às seguintes questões:

  • O quê: qual o objetivo a alcançar? (pagar dívidas, comprar um carro, poupar para a entrada de uma casa, atingir a independência financeira, etc.)
  • Quanto: qual o valor necessário para o atingir? 
  • Quando: qual o prazo para o cumprir? 
  • Como: o que é preciso fazer para alcançá-lo?

“Não se consegue gerir o que não se mede.” – Peter Drucker

A importância de manter um registo financeiro

Depois de definir os objetivos e as estratégias, é importante registar todos os números e indicadores para acompanhar a sua evolução e conseguir fazer uma avaliação financeira de forma eficaz. 

As vantagens de um bom registo financeiro ultrapassam em larga escala qualquer ponto negativo que possa ser apontado a esta ação.

Pode até parecer uma tarefa aborrecida, mas documentar todas as entradas e saídas de dinheiro permite:

  1. Identificar padrões de gastos: registar todas as despesas mostra-nos para onde vai o nosso dinheiro. Com apenas alguns meses de registo, muitas pessoas identificam gastos dos quais não tinham noção e que podem facilmente ser reduzidos ou até eliminados. Como por exemplo, subscrições de serviços desnecessários, despesas elevadas em take-away, entre outros.
  2. Monitorizar o progresso: as pequenas conquistas diárias podem parecer insignificantes. No entanto, como diz o ditado popular, “grão a grão enche a galinha o papo”. Um registo regular permite analisar a evolução dos objetivos definidos ao longo do tempo.
  3. Evitar dívidas: ter uma visão clara dos rendimentos e despesas mensais ajuda a cumprir o orçamento mensal definido, evitando gastos desnecessários ou excessivos.
  4. Planear melhor: com base nos dados recolhidos, é possível criar um plano financeiro adaptado a necessidades e prioridades, com base em dados reais.
  5. Preparar emergências: saber quanto dinheiro tem reservado para emergências pode evitar surpresas desagradáveis.

Registos essenciais para uma avaliação financeira de sucesso

Agora que já vimos a importância de manter registos regulares, vamos então passar à ação. Afinal, que registos financeiros são estes?

Rendimentos

Este ponto pode parecer óbvio e desnecessário porque, em princípio, todos nós sabemos em números redondos quanto recebemos. Mas é importante ir ao detalhe,  uma vez que o salário varia mensalmente devido ao subsídio de alimentação e, além disso, todas as fontes de rendimento têm de ser consideradas. Nomeadamente:

  • Salários e pagamentos de serviços ou vendas;
  • Rendimentos passivos como rendas de imóveis, dividendos e juros de depósitos a prazo ou investimentos;
  • Presentes monetários ou heranças;
  • Ganhos extra como trabalhos a freelancer, bónus ou vendas de bens usados;
  • Reembolsos de IRS ou quaisquer outros subsídios. 

Manter um registo claro dos rendimentos mensais permite, em primeiro lugar, avaliar se está a ganhar o suficiente para cobrir as despesas previstas e qual o valor que pode direcionar para os objetivos definidos.

Em segundo lugar, permite considerar de igual forma todos os rendimentos obtidos. Em certos casos, pode haver tendência para dar uma importância diferente ao dinheiro recebido através das várias fontes. Por exemplo, o salário é gasto com mais cuidado porque é ganho com mais esforço, mas o reembolso de IRS já é usado de qualquer forma porque foi um presente “inesperado”.

Somar, no mesmo local, todo o dinheiro recebido faz com que todos os rendimentos sejam vistos da mesma forma. 

Despesas

Saber exatamente onde gasta o seu dinheiro é fundamental. Não só quanto gasta, mas também em quê:

  • Habitação (prestação ou renda, água, eletricidade, internet, etc.)
  • Alimentação (supermercado, refeições fora ou take-away)
  • Transportes (combustível, manutenções, portagens, seguros, impostos ou até transportes públicos)
  • Saúde (consultas, exames, medicamentos e seguros)
  • Lazer (entretenimento, subscrições de serviços, viagens, etc.)
  • Outros (educação, estética, animais de estimação, etc.)

Estas categorias são apenas exemplos, que podem e devem ser adaptados à realidade e hábitos de cada pessoa. Documentar, com este detalhe, todas as despesas mensais permite perceber em que setores está a gastar mais do que seria o ideal. 

Passivos (dívidas e obrigações financeiras)

Caso existam dívidas (cartão de crédito, crédito pessoal, crédito automóvel, crédito habitação ou dívidas a amigos ou familiares), é importante conhecer e registar para cada uma delas os seguintes detalhes:

  • Valor em dívida
  • Taxa de juro aplicável
  • Prestação programada
  • Amortizações realizadas
Leia maisOrçamento mensal: como construir um?

Monitorizar a evolução das dívidas permite analisar a evolução dos passivos. Ou seja, se está a aproximar-se da liberdade financeira ou a acumular dívidas desnecessárias.

Ativos (poupanças e investimentos)

Pelos mesmos motivos do ponto anterior, é importante manter registos regulares dos ativos acumulados. Estes ativos incluem:

  • Contas de poupança
  • Planos de Poupança Reforma (PPR)
  • Investimentos em ações, fundos, imobiliário, criptomoedas ou outros produtos 
  • Obras de arte ou qualquer bem que possa ser trocado por dinheiro

Documentar os valores acumulados em cada ativo permitirá avaliar o crescimento do seu património ao longo do ano.

Indicadores financeiros

Os números registados permitem calcular dois indicadores importantíssimos: taxa de poupança e património.

A taxa de poupança permite saber que percentagem dos rendimentos poderá ser usada para os seus objetivos financeiros futuros.

Calcular taxa de poupança

Já o património é uma fotografia da sua situação atual: se pagasse todas as suas dívidas e vendesse todos os seus ativos, com quanto dinheiro ficaria?

Cálcular património

Quando usa a sua poupança mensal para comprar ativos ou amortizar dívidas, o seu património sobe mês após mês. Por sua vez, quando gasta mais do que aquilo que recebe e contrai dívidas constantemente, o património desce para valores cada vez mais negativos. 

Quais as melhores ferramentas para fazer registos financeiros?

As ferramentas ou métodos ideais são aqueles que mais facilmente consegue integrar na sua rotina diária. Fazer registos financeiros não tem de ser um processo complexo, por isso há soluções para todos os gostos:

Aplicações

O telemóvel anda sempre connosco, por isso uma aplicação que possa ser usada no dia a dia sem grande esforço pode ser uma boa opção. Tipicamente, estas apps permitem categorizar despesas, definir orçamentos e analisar a evolução de forma automática.

Folhas digitais

Há quem prefira métodos mais personalizados e utilize folhas de Excel ou Google Sheets. Para facilitar o processo, aconselho a que organize as colunas por mês, tipo de despesa, rendimentos e saldo.

Métodos analógicos

Apesar de toda a tecnologia, muitas pessoas continuam a preferir métodos mais tradicionais como o papel e a caneta. 

Este método pode tornar a avaliação financeira mais complexa porque exige cálculos manuais auxiliares. No entanto, se assim preferir e estiver à vontade com esses cálculos, então é também uma boa opção.

3 erros a evitar para uma boa avaliação financeira 

Se decidiu fazer um registo financeiro, então deverá fazê-lo com dados 100% fiáveis, para que possa fazer uma avaliação realista. Para isso, evite estes erros: 

  1. Não atualizar regularmente os seus registos: principalmente nas despesas pagas em dinheiro, que se tornam impossíveis de rastrear, é importante registá-las assim que possível para que não fiquem esquecidas. Tenha em atenção que deixar de fora despesas ou colocá-las em categorias erradas pode levar a uma visão distorcida dos números.
  2. Subestimar as despesas menores: gastos menores, como cafés ou snacks em máquinas de venda, acumulam-se rapidamente e não devem ser ignorados.
  3. Ser excessivamente ambicioso ao definir metas: relembrando o método SMART, as metas traçadas devem ser atingíveis. Objetivos irrealistas podem levá-lo à frustração, acabando por desistir de todo e qualquer planeamento futuro.

Avaliação regular

É impossível fazer uma avaliação financeira sem fazer registos. No entanto, fazer registos por si não serve de nada se não houver uma análise regular.

Para ajudar, deixo abaixo um conjunto de questões que estimulam a análise e reflexão financeira:

  • Há formas de diversificar ou aumentar as suas fontes de rendimento?
  • Existe alguma área na qual pode cortar despesas?
  • Quanto dinheiro gastou em necessidades vs. desejos?
  • Os seus gastos estão alinhados com as suas prioridades?
  • A sua taxa de poupança é positiva? Está satisfeito com esse valor?
  • O seu património tem uma tendência crescente ou decrescente?
  • Está no caminho certo para atingir os objetivos definidos?
  • As suas dívidas aumentaram ou diminuíram? Se aumentaram, porquê?

Ao comparar os resultados obtidos com as metas que definiu no início do ano irá conseguir confirmar se está a cumprir os objetivos ou se, por outro lado, está longe de os conseguir alcançar.

Caso não esteja a conseguir cumpri-los, deve tentar perceber o porquê de isso estar a acontecer: será que o objetivo foi mal definido (por exemplo, ser inalcançável tendo em conta os números atuais) ou aconteceu algum imprevisto que o desviou do caminho?

Seja qual for a resposta, aceite-a como uma aprendizagem para melhorar o processo nos anos seguintes.

Ações consistentes levam a grandes resultados

Manter registos para uma boa avaliação financeira é mais do que uma prática de organização. É uma ferramenta poderosa para transformar a sua relação com o dinheiro.

Com uma visão clara das suas finanças pode tomar decisões mais informadas, evitar dívidas desnecessárias e atingir objetivos financeiros que anteriormente até poderia julgar fora do seu alcance.

Como vimos, há diferentes formas de manter um registo eficiente e a forma mais correta é aquela que resultar melhor consigo. Ou seja, aquela que conseguir integrar na sua rotina diária com mais facilidade, de modo a garantir que os registos são os mais precisos possível.

Independentemente de onde esteja no seu percurso financeiro, lembre-se: o mais importante é começar. Ações consistentes levam a grandes resultados ao longo do tempo. 

Aproveite o impulso das resoluções de cada ano para garantir que tem uma vida financeira cada vez mais próspera. Mãos à obra?

O que achou?