Como escolher um depósito a prazo: prazos, taxas e impostos
Está a pensar pôr o seu dinheiro num depósito a prazo? Saiba como funciona e como escolher o produto mais rentável.
Os portugueses são, tendencialmente, mais conservadores a investir e preferem deixar o dinheiro em aplicações seguras, como os depósitos a prazo. Aliás, de acordo com o último Inquérito à Situação Financeira das Famílias, de 2020, os depósitos a prazo são o tipo de ativo financeiro mais utilizado pelas famílias portuguesas: representam 41,2% do total.
No entanto, nem todos os depósitos são iguais: as rentabilidades, os prazos e as condições para os movimentar podem diferir de produto para produto e de banco para banco. Por isso, antes de escolher um depósito a prazo, é importante estar informado para tomar a decisão mais acertada.
Depósitos a prazo: o que são e como funcionam
Quando subscreve um depósito a prazo, o seu dinheiro não fica guardado num cofre até à data de vencimento. Os depósitos a prazo são produtos financeiros que pressupõem a entrega de fundos à instituição bancária. No fundo, está a emprestar dinheiro ao banco e, por isso, no final do prazo contratado tem direito a reaver o seu dinheiro e ainda uma remuneração (os juros).
Na maior parte dos casos, os depósitos a prazo implicam a imobilização do capital, sendo reembolsáveis na sua totalidade apenas no final do período do contrato. Ou seja, não pode movimentar o seu dinheiro antes do prazo do depósito terminar. No caso de a instituição bancária permitir a mobilização antecipada, é provável que seja aplicada uma penalização sobre o valor dos juros relativos ao período em causa.
Depósitos simples e estruturados
Existem dois tipos de depósitos a prazo, tendo em conta o tipo de remuneração e a sua complexidade: os simples e os estruturados.
Os depósitos simples constituem a maior parte dos depósitos comercializados pelos bancos. São produtos remunerados a uma taxa de juro fixa ou a uma taxa variável. No caso dos depósitos com taxa fixa, esta é conhecida no momento em que o produto é subscrito e não se altera até ao final do prazo. Nos depósitos com taxa variável, a remuneração está dependente da evolução do indexante (por norma, são utilizadas as Euribor, as taxas de juro de referência do mercado monetário do euro).
Em qualquer um deste tipo de depósitos, podem ainda existir outras variantes, como:
- Depósitos com taxa de juro fixa, mas cujo valor é diferente consoante os períodos do depósito;
- Depósitos com taxa de juro variável, mas com spreads diferentes nalguns ou em todos os períodos.
Já a remuneração dos depósitos estruturados está dependente da evolução de outros fatores económicos, como o preço de uma ação ou de um conjunto de ações, ou o valor de índices acionistas.
As vantagens dos depósitos a prazo
Uma das principais vantagens dos depósitos a prazo é o facto de serem produtos com capital garantido. Ou seja, não corre o risco de perder o seu dinheiro. O banco tem sempre de assegurar o reembolso da totalidade do valor depositado.
Mesmo que a instituição bancária tenha problemas, ou até declare falência, os depósitos estão protegidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos, até um máximo de 100 mil euros por titular. Se o depósito for feito em Portugal, numa instituição de crédito estrangeira que tenha sede num dos Estados-membros da União Europeia, esta proteção é assegurada pelo sistema de garantia do país em questão.
Outra vantagem deste produto é que, ao contrário dos depósitos à ordem, por exemplo, rende juros. Assim, além de ter o seu dinheiro salvaguardado, ainda o faz crescer.
Por outro lado, os depósitos a prazo podem ter a desvantagem de não poderem ser mobilizados antecipadamente. Ou seja, se subscrever um produto que não permite levantamentos antes do final do prazo, estará a assumir um risco de liquidez, o que significa que vai ter o dinheiro indisponível se necessitar de o utilizar numa emergência
Taxas de juro associadas aos depósitos a prazo
A remuneração dos depósitos a prazo varia dependendo do tipo de produto (depósito simples ou estruturado). No caso dos depósitos simples, a taxa de juro é conhecida no momento em que subscreve o produto, por isso saberá, logo à partida, quanto é que irá receber no final do prazo. Já a remuneração dos depósitos a prazo estruturados, porque está dependente de outras variáveis económicas, só pode ser calculada no final do contrato.
Além disso, as taxas de juro podem ser simples ou compostas:
- Taxa de juro simples: o juro obtido em virtude do montante depositado mantém-se constante ao longo do tempo e os juros são pagos de forma periódica na conta à ordem do depositante, por exemplo mensalmente, trimestralmente ou no final do prazo.
- Taxa de juro composto: é aplicada aos depósitos quando existe uma capitalização de juros. Neste caso, os juros obtidos em cada período são adicionados ao montante inicial, que será novamente remunerado. Ou seja, obtém juros sobre juros.
Antes de subscrever um depósito a prazo, é importante que também conheça todas as taxas de juro associadas e que as saiba comparar:
- Taxa Anual Nominal Bruta (TANB): taxa de remuneração anual simples, já que não contempla a capitalização de juros. É uma taxa nominal, porque não considera a evolução da inflação e bruta, uma vez que não desconta o IRS que irá incidir sobre os juros. Nos depósitos a prazo com juros simples, a comparação entre a remuneração de diferentes depósitos a prazo deve ser feita com base nesta taxa.
- Taxa Anual Nominal Líquida (TANL): corresponde à TANB depois de deduzida a taxa de IRS (28% em Portugal Continental e na Madeira e 22,4% nos Açores);
- Taxa Anual Efetiva (TAE): é uma medida que expressa o rendimento anual de um depósito a prazo, incluindo não apenas os juros simples oferecidos, mas também a capitalização dos juros (se houver), comissões, impostos e outros encargos que possam estar associados. É a taxa que deve ser utilizada para quem pretende comparar depósitos, em especial com juros compostos, porque considera o efeito da capitalização.
- Taxa Anual Efetiva Líquida (TAEL): corresponde à TAE deduzida do imposto que recai sobre os juros.
Como calcular as taxas de juro
Para calcular quanto irá receber de juros, deve ter em conta o capital, a taxa de juro e o prazo do depósito. A fórmula é a seguinte:
Juros = capital investido x taxa de juro x (prazo de pagamento/360*)
*A contagem dos dias para efeitos de cálculo dos juros segue o sistema Actual/360, que é a convenção genérica do mercado monetário em euros. Este sistema considera 360 dias por ano.
Taxa de juro simples
Vamos imaginar um depósito de 2.500 euros, com prazo de dois anos, TANB de 3% e que paga juros trimestralmente. A cada três meses recebe:
2.500 x 0,03 x (90/360) = 18,75 euros brutos
No final de cada ano, este depósito a prazo rende 75 euros brutos e, no fim do prazo do depósito, recebe 150 euros. No entanto, ainda é preciso retirar o valor do IRS (vamos considerar os 28%):
75 x 0,72 = 54 euros líquidos
Assim, no final de cada ano, recebe 54 euros líquidos e, ao fim dos dois anos de subscrição do depósito, recebe 108 euros de juros. Quando resgatar o dinheiro, consegue um total de 2.608 euros.
Taxa de juro composta
A fórmula é a mesma, no entanto os juros são capitalizados. Ou seja, são continuamente adicionados ao montante inicial.
Vamos considerar o mesmo exemplo. Nos primeiros três meses recebe os mesmos 13,50 euros líquidos (18,75 euros x 0,72). No entanto, no trimestre seguinte, o cálculo já considera a capitalização dos juros. Assim:
(2.500 + 13,50) x 0,03 x (90/360) = 18,85 euros brutos
Com uma taxa de juro composta, no primeiro ano recebe 54,44 euros líquidos de juros e no segundo ano recebe mais 55,62 euros. Ou seja, quando resgatar o seu dinheiro terá 2.610,06 euros.
Como escolher o depósito a prazo mais rentável
Para escolher o melhor depósito a prazo deve ter em conta alguns aspetos importantes.
Saúde da instituição financeira
Primeiro, deve verificar a credibilidade do banco para ter a certeza que essa instituição pode oferecer soluções de depósitos a prazo. Consulte a lista dos bancos autorizados pelo Banco de Portugal.
Depois, deve fazer uma pesquisa sobre a saúde financeira da instituição. Nem sempre é uma boa ideia optar por um banco que oferece uma taxa de juro muito acima do que está a ser praticado no mercado. Por vezes, isso pode significar que esse banco tem dificuldade em obter financiamento através do mercado interbancário, ou seja, poderá não estar numa situação muito estável.
Montante autorizado
Em muitos depósitos a prazo estão estipulados montantes mínimos e máximos de subscrição. Tenha isso em conta antes de escolher um para subscrever.
Prazo
Verifique os prazos de subscrição. Há depósitos de curto prazo, como três ou seis meses, ou mais prolongados, até cinco anos, por exemplo. Em alturas de crise e de maiores dificuldades financeiras, a escolha entre depósitos com prazos mais longos ou curtos depende de vários fatores, como a estabilidade financeira pessoal, a necessidade de liquidez e as expectativas sobre a evolução das taxas de juro. No entanto, optar por depósitos de mais longo prazo pode ser vantajoso se a sua situação financeira é relativamente estável e se deseja garantir um rendimento fixo.
Reforços
Se o seu objetivo é multiplicar o seu dinheiro, então é aconselhável que escolha um depósito que permite fazer entregas adicionais de capital.
Renovação
Há depósitos que podem ser renovados no final do prazo de subscrição. No entanto, antes de o renovar, volte a analisar as opções disponíveis no mercado e veja se existe alguma oferta mais vantajosa.
Mobilização
Como já vimos, há depósitos a prazo que não podem ser mobilizados antecipadamente e, os que podem, normalmente aplicam uma penalização nos juros. É preferível que opte por um depósito que permita a mobilização antecipada, assim não corre o risco de liquidez e, caso surja uma emergência, pode movimentar o dinheiro. No entanto, e para não perder a remuneração, evite ao máximo mexer neste depósito.
Taxas de juro
Antes de contratar um depósito a prazo, é fundamental que consulte a Ficha de Informação Normalizada, que é disponibilizada pelo banco, para saber qual é a taxa de juro que efetivamente vai receber. Isto porque, muitas vezes, as instituições bancárias apenas anunciam as taxas de juro brutas e não as líquidas.
O ideal é que subscreva um depósito com uma taxa de juro superior à inflação para que o seu dinheiro não perca valor.
Hoje em dia, já existem no mercado centenas de opções de depósitos a prazo. Por isso, antes de se deixar levar pelo que, à primeira vista, oferece as melhores condições, ou de fazer o seu depósito num determinado banco, só porque foi o que usou a sua vida toda, analise as ofertas. Consulte diferentes instituições bancárias, veja as condições que oferecem e faça simulações (pode utilizar o simulador da DECO). Só assim poderá tomar a melhor decisão.