Ainda vale ou não a pena investir em ouro?
Índice de conteúdos:
- Como tem evoluído a cotação do ouro?
- Quais os fatores que influenciam o preço do ouro?
- Quais as principais vantagens de investir em ouro?
- E as desvantagens?
- Como investir em ouro?
- Dicas para começar a investir em ouro
- A compra e venda de ouro paga imposto?
- Mas afinal, ainda vale a pena investir em ouro?
Antes de investir em ouro é importante conhecer um pouco melhor este produto, as suas vantagens e desvantagens e os fatores que influenciam o seu valor. Também é essencial saber como investir em segurança.
O ouro é visto, há séculos, como um investimento seguro e estável. Por isso, é um produto muito procurado em períodos de incerteza ou de maior turbulência financeira. Mas para assegurar que obtém rendimentos ao aplicar o seu dinheiro em ouro, existem alguns pontos que deve considerar. Explicamos tudo.
Como tem evoluído a cotação do ouro?
Olhando apenas para a evolução do preço do ouro neste século, é fácil perceber que as flutuações estão relacionadas com eventos importantes. Por exemplo, durante a crise financeira de 2008/2011, o ouro atingiu o pico do seu valor até então. Teve algumas oscilações nos anos que se seguiram, com uma descida significativa em 2015, mas voltou a subir na altura da pandemia por Covid-19.
Com o início da guerra na Ucrânia, em 2022, verificou-se uma nova subida, que acabaria por não ser duradoura, devido à subida das taxas de juro (o que tornou outras poupanças e investimentos mais apelativos).
Em 2024 e 2025 o preço do ouro atingiu preços recorde, motivados por tensões políticas e comerciais (por exemplo, as tarifas aplicadas às importações dos EUA) e pela descida das taxas de juro por parte do Banco Central Europeu (BCE).
Mais uma vez, e num cenário complexo, muitos investidores encontraram no ouro um refúgio contra os riscos. A tendência atual é de valorização.
Quais os fatores que influenciam o preço do ouro?
O contexto económico e as tensões políticas locais ou globais são fatores que influenciam a cotação deste metal precioso. No entanto, há outras razões para que o preço do ouro suba ou desça, nomeadamente:
As taxas de juro
Quando as taxas de juro aumentam, os depósitos bancários passam a render mais (porque os juros pagos aos depositantes são mais altos), o que os torna mais apelativos para captar poupanças e investimentos. Por isso, o preço do ouro tende a descer, porque há menos interesse/procura.
O valor do dólar
Como a cotação do ouro é expressa em dólares, sempre que a moeda norte-americana valoriza, o ouro perde valor e vice-versa. Ou seja, um dólar forte torna o ouro mais caro e existe menos procura.
O contexto económico
O ouro tem sido encarado como um valor seguro em contextos de inflação (subida generalizada dos preços) ou de recessão, porque consegue manter-se valioso quando outros ativos, como imóveis, tendem a desvalorizar. Para os investidores mais experientes é uma forma de proteger o seu portfólio da volatilidade dos mercados.
As restrições de oferta
A lei da oferta e da procura também influencia a cotação do ouro. Como é um metal limitado e tem existido dificuldade em encontrar novos depósitos – porque são raros e têm custos elevados em termos de prospeção, exploração e licenciamento –, a oferta é mais escassa do que a procura. Logo, o valor aumenta.
Quais as principais vantagens de investir em ouro?
As principais vantagens de investir em ouro estão relacionadas com a tendência de valorização e com a possibilidade de diversificar a carteira de investimentos, protegendo outros ativos.
1. Diversificação da carteira de investimentos
Não investir apenas num tipo de ativo é um dos princípios mais importantes para qualquer investidor, mesmo que esteja ainda a começar a aplicar o seu dinheiro.
Investir em ouro permite compensar as perdas de outros ativos, como ações.
2. Proteção contra condições adversas
Em épocas de inflação e de desvalorização monetária, o ouro torna-se um ativo ainda mais valioso, porque o seu preço sobe. Mas é igualmente vantajoso quando acontece o contrário.
Num contexto de deflação (quebra acentuada dos preços), as pessoas tendem a poupar e, quando aplicam as suas poupanças em ouro, estão a fazer com que a procura aumente e o preço suba.
O investimento em ouro é igualmente vantajoso em condições geopolíticas mais complicadas: durante as guerras ou em períodos em que existe menos confiança nos governos, a compra de ouro aumenta, fazendo subir o seu valor.
3. Procura crescente garante aumento do valor
A procura por ouro tem aumentado em mercados emergentes, como a China ou a Índia, onde a sua aquisição está relacionada com questões culturais (como os casamentos indianos) e é símbolo de status. Este aumento da procura garante uma valorização do ouro durante os próximos anos.
O ouro não é usado apenas para investimento, para joias ou como forma de transmitir riqueza aos descendentes. Como é um metal resistente e com características únicas, continua a ser muito procurado em áreas tão diferentes como a cosmética, setor automóvel, tecnologia e telecomunicações.
E as desvantagens?
Investir em ouro tem, igualmente, algumas desvantagens que devem ser analisadas quando se pondera este tipo de investimento. Os custos associados e a dificuldade de liquidez são as principais, mas existem outras:
- Dificuldade de liquidez imediata: a liquidez pode ser limitada em comparação com outros ativos, porque é difícil vender rapidamente e a um preço justo;
- Volatilidade: como o seu valor é influenciado por vários fatores, pode ter oscilações significativas;
- Incapacidade de gerar rendimento regular: ao investir em ouro não obtém juros ou dividendos;
- Custos: investir em ouro implica custos com armazenamento seguro, como o aluguer de cofres e seguros;
- Menor rentabilidade a longo prazo em comparação com ações e outros ativos.
Como investir em ouro?
Há várias formas de investir em ouro. Da aquisição de barras até aos investimentos mais complexos, como fundos ou contratos de futuros, há opções para todos os tipos de investidores.
Compra direta de barras de ouro e lingotes
Neste tipo de investimento, adquire fisicamente o ouro, que é geralmente guardado num cofre bancário. O ouro vai valorizando ou desvalorizando conforme o seu valor de mercado, mas se precisar de liquidez terá de vender as barras ou os lingotes.
As barras de ouro têm um nível de pureza entre 999 e 1000, são gravadas e embaladas em invólucros selados e com número de série único. O peso varia entre os 2,50 gramas (lingotes) e os 12,40 kg (400 onças no padrão internacional).
Assim, tem várias opções de peso, dependendo de quanto quer ou pode investir. Pode saber a cotação do ouro através da LBMA (autoridade internacional independente com sede em Londres) ou da AORP (Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal). Nesta última, encontra o preço em euros por grama, enquanto em Londres o preço é expresso em dólares por onça (31,1 gramas).
Pode comprar ouro em barras e lingotes em algumas instituições bancárias nacionais.
Joias em ouro
Se o objetivo é que o ouro valorize, aplicar o dinheiro em joias é desaconselhado. Como o preço é influenciado pelo valor artístico, é mais subjetivo e vai pagar mais do que se comprasse o ouro “em bruto”. Mas quando quiser vender, estes artigos vão desvalorizar.
Moedas de ouro
O chamado ouro amoedado (como as libras esterlinas) vale, no mínimo, o seu peso em ouro. Mas o preço pode ser superior, dependendo da sua antiguidade, raridade ou estado de conservação.
Para saber quanto valem deve consultar a cotação em revistas especializadas ou em lojas de numismática.
Fundos de Investimento
Os fundos de investimento relacionados com ouro incluem títulos de empresas mineiras ou outras relacionadas com este ou outros metais preciosos. Este tipo de investimento permite obter dividendos e não tem os custos decorrentes do armazenamento.
ETF (fundos negociados em bolsa)
Os ETF (Exchange Traded Funds) são fundos de investimento negociados na bolsa de valores que refletem a performance financeira de um conjunto de ativos, que podem ser ouro ou índices relacionados.
São transacionados como ações, pelo que podem ser facilmente adquiridos ou vendidos, permitindo liquidez e não exigem investimentos elevados. Os custos associados a este tipo de investimento são menores do que se comprasse ouro físico.
Ações de empresas mineiras
Para investir em ouro de forma indireta também pode optar pela compra de ações de empresas que extraem ou produzem ouro. Neste caso, obtém rendimento através dos dividendos. É um investimento com alguns riscos, como a volatilidade e fatores relacionados com a própria empresa.
Contratos futuros e opções sobre ouro
São instrumentos financeiros que envolvem a negociação de ouro a um preço e numa data futuros. Esta será uma opção mais adequada para investidores com mais experiência e menos avessos ao risco, porque os ganhos e as perdas são significativos e bastante rápidos.
7 dicas para começar a investir em ouro
Se começar a investir em ouro, além de ter em conta as vantagens, desvantagens e opções de investimento, é importante seguir alguns passos e estratégias. Há, também, alguns cuidados que não devem ser esquecidos.
1. Defina o seu objetivo e faça uma escolha adequada
Qual o motivo para este investimento? A diversificação da sua carteira, a possibilidade de liquidez ou ter uma reserva de valor? As metas que traçar são determinantes para escolher a melhor forma de investir. Por exemplo, se quer um investimento seguro, o ouro físico será a escolha mais acertada.
2. Avalie a necessidade de liquidez
Algumas formas de investimento em ouro não permitem obter liquidez imediata. Ou seja, se precisar rapidamente de dinheiro, será mais fácil vender ações ou ETF do que uma barra de ouro.
3. Aposte na diversificação
Investir apenas em ouro, ainda que de diferentes formas, pode não ser a melhor opção, já que toda a sua carteira vai depender de um único ativo. Para obter maior rentabilidade e minimizar as perdas, a diversificação é sempre uma boa estratégia.
4. Invista de forma faseada
Numa altura em que o preço do ouro tende a subir, pode ser tentador aplicar todo o dinheiro disponível para investimentos em ouro. Mas esta opção acarreta riscos, dado que a cotação deste metal é influenciada por vários fatores e alguns são imprevisíveis.
Assim, é mais prudente ir investindo um valor previamente definido de forma regular, como uma vez por mês, por trimestre ou duas vezes por ano.
5. Não ceda a impulsos
Tal como não é aconselhável investir tudo o que tem de uma só vez em ouro, também não deve reagir de forma impulsiva e desfazer-se do seu investimento se os preços começarem a descer. O ouro é valorizado há séculos e só é rentável se for encarado como um investimento a longo prazo.
6. Confirme a legitimidade do produto e do vendedor
A compra de ouro físico só deve ocorrer junto de instituições autorizadas, porque essa é a única forma de garantir que está realmente a comprar ouro. A World Gold Council recomenda:
- Pedir o certificado de autenticidade para barras, lingotes e moedas de ouro;
- Pedir uma avaliação independente e verificar os números de série se comprar moedas de coleção;
- Caso adquira peças de joalheria, deve procurar a marca legal da contrastaria.
7. Avalie custos e comissões
Todas as formas de investimento em ouro têm encargos e é importante conhecê-los.
A forma mais segura de guardar barras ou moedas é alugando um cofre num banco, o que tem custos. Se comprar artigos de ourivesaria, terá de pagar a margem de lucro do intermediário e da produção, o que encarece o valor final. Já os investimentos em fundos, ações ou ETF implicam comissões.
A compra e venda de ouro paga imposto?
Se comprar ouro como forma de investimento (como barras, lingotes e alguns tipos de moedas) não vai pagar IVA, mas a aquisição de joias e outros artigos já não beneficia de isenção.
Ao ganhar dinheiro com a venda de ouro não paga mais-valias em sede de IRS, mas as que forem obtidas com a venda de ações ou ETF já pagam imposto. O mesmo se aplica a eventuais dividendos (taxa de tributação autónoma de 28%, a menos que opte pelo englobamento).
Mas afinal, ainda vale a pena investir em ouro?
Investir em ouro pode ser uma boa opção se a decisão for informada. Isto é, se o investidor conhecer os custos, os riscos (como a liquidez e a volatilidade) e encarar este investimento a longo prazo.
A tendência de subida dos últimos anos está a aumentar o interesse por esta forma tradicional de investimento, mas é importante garantir que o faz junto de entidades confiáveis.
Além disso, deve manter o princípio da diversificação da carteira, aplicando dinheiro noutro tipo de ativos e escolher, entre as várias opções de investimento em ouro, a que melhor se adequa aos seus objetivos financeiros.