Literacia Financeira: Portugal em último lugar no ranking europeu
Numa situação de crise — mundial ou pessoal, como uma situação de desemprego inesperado — a literacia financeira pode ser uma poderosa arma para a resiliência financeira. Este tipo de literacia diz respeito aos conhecimentos da área financeira e à forma como os aplicamos e gerimos no dia-a-dia. O estado da literacia financeira em Portugal não é, no entanto, animador: está em último lugar do ranking da Zona Euro.
Este ranking é relativo ao ano de 2020 e foi publicado no início de 2022 pelo Banco Central Europeu. Portugal, Chipre e Itália aparecem na base, o que significa, no caso português, que apenas 25% das pessoas sabem responder a três ou mais perguntas (em cinco) sobre literacia financeira. Para este estudo foram feitas questões sobre a diversificação do risco, inflação, aritmética e juros compostos que tinham como público alvo o público não especializado.
Porque deve investir em literacia financeira?
A literacia financeira permite chegar à resiliência financeira, isto é, a capacidade de “resistir, lidar e recuperar de choques com consequências financeiras negativas”, segundo a Comissão Europeia (CE). Antes da Pandemia, por exemplo, um quarto dos portugueses conseguiria pagar seis meses de despesas se a sua fonte de rendimento falhasse. Este é um dos benefícios de ter uma gestão financeira organizada e consciente: ganha-se alguma poupança e capacidade de lidar com o inesperado.
Quando se tem a capacidade de avaliar o orçamento doméstico pesam-se melhor as despesas essenciais e aumenta a qualidade do consumo: é possível identificar os gastos desnecessários e as formas de os minimizar ou mesmo eliminar. É-se mais seletivo na decisão de cada compra e isto reflete-se na capacidade de poupar no final do mês — mas também de investir.
Estes conhecimentos constroem-se, necessariamente, a partir dos conceitos mais básicos para os mais complexos. Saber calcular taxas de juro, por exemplo, é algo relativamente simples e pode ser a base para entender como funcionam certas aplicações financeiras. Ao conhecê-las e compará-las — e a todas as hipóteses que investimento que o mercado tem — pode planear melhor o seu futuro.
Todo o investimento pressupõe um risco e a literacia financeira ajuda a calculá-lo, a perceber que tipo de investidor é e a delinear objetivos a curto, médio e longo prazo. Em suma, conhecer o seu dinheiro e a forma como o gere pode ajudá-lo a ficar mais tranquilo em relação ao futuro.
Como aumentar a literacia financeira?
A literacia financeira para adultos tem quatro grandes áreas, segundo a CE e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Estas duas entidades construíram um referencial de competências para adultos da UE com 563 competências: 114 estão associadas à área dinheiro e transações, 238 ao planeamento e gestão financeira, 49 a risco e recompensa e 162 ao contexto financeiro.
O documento em inglês ganhou o nome EU/OECD-INFE financial competence framework for adults e os mais de 500 pontos são não só conhecimentos, mas também capacidades e comportamentos que levam a “decisões financeiras informadas e adequadas” a um bem-estar financeiro, tendo em vista a resiliência financeira, a digitalização e a sustentabilidade — duas inevitabilidades do século XXI.
Porque esta educação, quando feita em idade adulta, depende muito da iniciativa de cada um, um documento como este é uma boa forma de ter um ponto de partida para procurar mais informação. Neste documento, os conceitos estão esquematizados e acompanham-se de um pequeno glossário que os torna mais acessíveis. Por exemplo, no capítulo de dinheiro e transações falam-se de temas tão quotidianos como a capacidade de identificar uma nota falsa ou mesmo do valor económico de equipamentos em segunda mão e consertados. Mas também se abordam conceitos mais complexos como os cryptoativos e ativos virtuais, no capítulo do planeamento e gestão financeira.
Olhando para as tabelas destas quatro áreas da literacia financeira consegue aferir os temas que domina e aqueles em que pode investir e sobre os quais vale a pena pesquisar. Por exemplo: sabe dizer o que é um capital de risco? Sabe como reorganizar as suas prestações em caso de necessidade? Compreende para que servem os impostos que pagamos?
Procure sempre informação em fontes fidedignas e não fique pela primeira resposta que recebe a cada pergunta. Se tem crianças na família ou no seu circulo de amigos, lembre-se de este tipo de literacia e a relação com o dinheiro se pode construir desde tenra idade. Pode despertar-lhes a curiosidade, por exemplo, através de livros sobre este tema. Lembre-se que “de pequenino é que se torce o pepino”.