Reforma: 6 dicas para se preparar psicologicamente
Uns anseiam que chegue, outros temem-na: a verdade é que entrar na reforma nem sempre é consensual. As pessoas mais ativas, por norma, têm dificuldade em deixar de ter uma rotina profissional, com horários e metas a cumprir e, durante a reforma, procuram ocupar o tempo de outra forma. Pelo contrário, há também quem sonhe com o descanso merecido e deseje, apenas, não ter qualquer tipo de obrigações. Às vezes, na vida de um casal, quando um dos elementos se aposenta, podem mesmo existir tensões.
O desafio é: preparar-se, com antecedência, para que seja uma fase agradável, independentemente dos seus objetivos. O Contas Connosco falou com Ana Sara Moreira, psicóloga clínica, e damos-lhe 6 dicas para antecipar, da melhor forma possível, esta fase da sua vida:
1) Prepare-se para a fase de transição
Não espere sair, num dia, do seu local de trabalho, após anos de rotinas, e, no outro, estar reformado, sem sentir qualquer estranheza. Existem horários, rotinas, hábitos, obrigações e, até, ambientes que podem mudar radicalmente. Além disso, há pessoas que se sentem tão ligadas à profissão que podem até sentir uma espécie de perda de identidade: “Muitas vezes, as pessoas sentem que o João não é o João. É médico, é professor”, explica Ana Sara Moreira. Por isso, “têm de perceber que, para além da profissão, são pessoas com interesses e qualidades”. Segundo a psicóloga clínica, “às vezes, pessoas que eram muito lógicas, podem tornar-se mais artísticas” e é importante “aceitarem essa mudança e não se assustarem” até porque “voltar a ter uma identidade demora algum tempo”.
2) Tenha paciência
Muitas pessoas estranham a mudança de ritmo e chegam até a encarar a reforma como a recta final da vida. Para Ana Sara Moreira, “é só outra fase tão válida como a vida ativa”. Embora “socialmente não valorizemos a idade”, a verdade é que “é só outro modo de vida, com outro ritmo e outra sabedoria”. A psicóloga clínica gosta de salientar uma metáfora: “As pessoas dizem que andam mais devagar. Tudo bem, podem não fazer o caminho a correr, mas, ao andar mais devagar, conseguem observar coisas que não viam antes”. É “outra forma de ver o mundo” – salienta a especialista – “não é negativa”.
Ainda assim, há quem se deixe afectar mais pela mudança e fique com um estado de espírito mais susceptível, o que pode, por vezes, criar conflitos no casal. Para evitar estas tensões, a psicóloga aconselha: “É importante ter uma vida da qual o outro não faça parte. Cada um deve fazer atividades e conhecer coisas novas, para não estarem sempre juntos e a relação crescer de forma diferente”.
3) Dedique-se a alguma coisa que o faça feliz
Gostariam de viajar? Ou de passar mais tempo em casa? De arranjar um trabalho em part-time numa área que sempre desejaram experimentar? Ou desenvolver um hobby para o qual nunca tiveram tempo? Querem dedicar mais tempo à família e aos netos ou, pelo contrário, ter mais tempo para vocês próprios? Na opinião de Ana Sara Moreira, durante a reforma, as pessoas “estão a voltar a conhecer-se”, por isso, “devem ir experimentando coisas diferentes como as crianças”. Nesta fase, é natural que apareça “um lado mais artístico ou de contemplação” ou mesmo “processos de desenvolvimento pessoal” já que a pessoa “está menos identificada com papéis familiares e profissionais e tem mais espaço para se descobrir”. Para a psicóloga, o mais importante é “ter rotinas e atividades estimulantes tanto intelectual como fisicamente”. O contacto com os netos também é fundamental “desde que não seja um segundo emprego”.
4) Cuide da sua saúde
Muitas pessoas entendem a entrada na idade da reforma como um passo na direção da velhice e dos últimos anos de vida. Mas não tem de ser assim! É muito importante que continue a cuidar de si, em especial, da sua saúde seja física ou psicológica. Procure ter uma alimentação saudável e faça algum exercício físico com regularidade. Experimente inscrever-se num ginásio, aulas de dança, natação ou, se não for adepto de treinos em grupo, opte por uma caminhada na praia ou num local com uma paisagem agradável.
5) Não se isole
Para além da saúde física, é fundamental também dar atenção à saúde psicológica e emocional. Muitas vezes, mais do que criar rotinas em torno do local de trabalho, criam-se também laços de amizade e camaradagem. Com a reforma, por vezes, estes laços diluem-se ou mesmo perdem-se, o que pode levar a uma certa sensação de isolamento. Evite perder o contacto com os amigos de sempre: telefone-lhes, marque encontros ou, se for adepto das redes sociais, vá trocando uns comentários com os que estiverem mais longe. Segundo Ana Sara Moreira “estar com outras pessoas, quer seja a beber café ou jogar dominó, é fundamental para a saúde. Está provado que estar com os outros é um protetor de saúde mental e física”. Também está sempre a tempo de fazer novas amizades e, já agora, de adoptar um animal de estimação, que é sempre uma óptima companhia e um incentivo para sair de casa e caminhar.
6) Faça planos para o futuro
Sim, para o futuro. A psicóloga clínica explica que “às vezes, a seguir à reforma as pessoas vivem mais 20 anos”. Por isso, “tem de haver um balanço de vida – o que conseguiram fazer e o que falta – e começar a realizar o que faltou”. Na realidade, sublinha Ana Sara Moreira, “pode descobrir facetas que nunca explorou e tornar-se uma pessoa mais completa”.
Já sabe, sorria para a vida… e boa reforma!