Em casa com os miúdos: saiba como evitar um ataque de nervos
Algumas escolas conseguem dar aulas à distância, outras enviam trabalho para casa e outras… nem uma coisa nem outra. Do lado dos pais, também existem muitas realidades e o esforço de organização, com as crianças, exige paciência e criatividade. Damos-lhe algumas dicas, sugeridas por Nuno Martins, formador de Disciplina Positiva e autor do livro “Educar pela Positiva”.
1. Antecipe-se
Procure organizar a semana, com antecedência – por exemplo, no fim-de-semana anterior – em conjunto com os seus filhos, mesmo que sejam pequenos. Comece por explicar às crianças que, apesar de estarem em casa, não estão de férias: os pais vão continuar a trabalhar e eles também terão tarefas.
2. Defina regras e rotinas
É importante que as crianças mantenham as rotinas, mas, nesta fase, há pais que preferem ter alguma flexibilidade. Nuno Martins, formador de Disciplina Positiva, prefere “não impor um horário rígido”: “Nesta altura, não pomos despertador, mas eles acordam mais cedo quando sabem que vão para a brincadeira do que em dias de escola”.
Se estiver entre os pais cujas escolas dos filhos não deram qualquer indicação, o melhor é procurar material didático online para que as crianças “mantenham o contacto com a matéria”. Para o formador e autor do livro “Educar pela Positiva”, é importante “manter os exercícios, de preferência, de forma lúdica”. Quanto a horários, defende que “é difícil fazer em casa igual ao que fariam na escola”, por isso, sugere que os exercícios sejam feitos “durante um período da manhã ou um período da tarde”.
3. Envolva as crianças na definição de rotinas e dos tempos de trabalho
Para organizar a semana, Nuno Martins sugere que os pais façam uma “tabela de rotinas”. E, antes de se lançar nesta tarefa, tome nota de um pormenor importante: os seus filhos têm de participar na execução da tabela. Senão, não funciona: “As tabelas de rotinas não são eficazes porque são os adultos a estipular o que as crianças devem fazer. Para resultar, deve-se envolver as crianças na construção da tabela. Devemos pedir às crianças que façam uma lista de ideias, em conjunto connosco. Perguntar-lhes ‘Que coisas divertidas é que podemos fazer nos próximos dias?’”.
Se já está a pensar que os seus filhos vão querer brincar, jogar computador e ver vídeos no YouTube o dia todo, o formador de Disciplina Positiva também tem uma dica para ajudar a responder-lhes: “Existe uma ferramenta interessante da eduçação positiva que são as opções limitadas. Por exemplo, quando quiserem jogar o dia todo, eu digo que não, mas digo que podem optar jogar de manhã ou à tarde.”
A partir do momento em que existir uma tabela, “passa a ser a tabela a mandar”, refere Nuno Martins. Ainda assim, não deve ser demasiado rígida nem com horários definidos: “Se a criança não quiser fazer aquela atividade, podemos trocar com outra prevista para o mesmo dia. E definir, em conjunto, a duração das atividades. As crianças são como nós: se, numa circunstância normal, tínhamos previsto ir ao cinema, mas, de repente, está um tempo excelente e apetece-nos ir para a praia, mudamos os planos. Com eles, é igual. Temos de encontrar o equilíbrio”.
4. Use a sua criatividade
Na definição das rotinas e das tarefas, é necessário “dar opções válidas para as crianças”. Nuno Martins dá vários exemplos com base na sua experiência profissional e pessoal, como pai de duas crianças: “A brincadeira mais gira que fizemos hoje foi ‘Quem é que consegue em 5 minutos encontrar o maior número de pares de meias’ (risos). Além de dar muito jeito, foi uma forma criativa de estarem entretidos”.
Para os momentos mais difíceis, formador de Disciplina Positiva criou uma ferramenta: a caixa das birras. “É um porta-jóias com gavetas de vários tamanhos. Pode construir-se com uma caixa de cartão”, explica. “Quando há uma birra, peço-lhes para guardar nas gavetas. Não se trata de abafar as emoções. Se precisam de chorar, devemos deixá-los chorar e dizer: ‘Já percebi que estás irritada, não te importas de guardar ali na caixinha das birras?’. E vou mudando o foco: ‘Olha a birra está a ficar grande, queres pôr noutra gaveta maior?’. E depois falar sobre isso. Não criticar, não dizer que é mau, mas antes perguntar-lhes o que estavam a sentir.
A “tabela de ideias” em quatro passos:
1º Pedir às crianças para dar ideias
2º Apontar as ideias num papel
3º Fazer desenhos para as ideias (para as crianças mais pequenas, que ainda não sabem ler, conseguirem entender)
4º Afixar a tabela num local de fácil acesso (por exemplo, no frigorífico)
Ideias para entreter as crianças:
- Jogo didático sobre o Coronavírus promovido pela Direção-Geral de Saúde
- Jogo didático com a estrelinha, símbolo do INEM
- Fazer das tarefas domésticas uma brincadeira
- Jogos de cartas
- Jogos de tabuleiro
- Fazer uma caixa de areia e recriar uma ida à praia
- Cozinhar
- Ensinar a fazer malhas, ponto de cruz, croché
- Contar histórias e incentivá-los a inventar uma das partes da história
- Cantar e dançar
- Fazer ginástica
- Arrumar gavetas e armários e aproveitar para separar a roupa e brinquedos que já não usam
- Pintar e fazer desenhos
- Montar legos e puzzles
- Brincar com os animais de estimação
- Fazer teatros
- Construir tendas com lençóis
- Falar sobre o que estão a sentir (ou escrever ou desenhar)
- Deixá-los usar a tecnologia (computador, tablet, telemóvel) por um determinado tempo
- Jogar à macaca, ao elástico e à sardinha
- Ver fotografias antigas e organizar os álbuns
- Inventar jogos para fazer à janela (por exemplo: tentar adivinhar a cor do próximo carro que vai passar)