Poupar

Quanto vale o seu dinheiro?

4 min
Pedro Andersson
Mulher declara dinheiro na alfândega

Em Portugal, fala-se cada vez mais em literacia financeira, na necessidade de poupar e de começar a investir ou, pelo menos, de preparar o futuro. Já acordou para esse problema?

Duvido que não concorde que é importante poupar. É uma questão de simples bom senso. O problema é quando tentamos levar a teoria para a prática. A primeira pergunta mata logo a questão: com que dinheiro?

Com a exceção das pessoas que ganham tanto dinheiro que não sabem o que fazer com ele, a maior parte de nós chega ao fim do mês com o dinheiro contado, ou pelo menos bem distribuído e pouco sobra para a “famosa” poupança.

Há pessoas que ganham muito bem em Portugal. Há casos de profissionais da saúde, de novas tecnologias ou em setores muito específicos, que são pagos a peso de ouro. Chegam a receber centenas de euros por dia ou 5, 7 ou 10 mil euros por mês. É certo que trabalham muito e que merecem ser pagos pelo seu trabalho, mas se eu ou você ganhasse 600 ou 800 euros por dia muito provavelmente não estaria a escrever esta crónica, nem você a lê-la. Se ganhasse 10 ou 15 mil euros por mês não estaria preocupado com baixar a conta de eletricidade, nem com a renegociação do seguro do carro (ou carros). 

Há dezenas de profissões bem pagas, como pilotos, artistas, atletas, empresários, etc. Alguns deles são pessoas que ganham muito bem, mas – acredite – são um desastre a cuidar das suas finanças pessoais. Há milhares de pessoas a ganhar rios de dinheiro e que vivem pior do que você e eu. Alguns até entram em insolvência.

Como começar a poupar?

Voltando ao que nos interessa, ao longo dos próximos meses partilharei consigo tudo o que aprendi nos últimos 15 anos durante os quais, como jornalista, tenho investigado como podemos ter mais dinheiro na nossa carteira com dicas muito simples e práticas e que FUNCIONAM. Testo-as todas. Não são teoria. Aprendi à minha custa que não podia viver salário a salário, “chapa ganha, chapa gasta”. 

percebi que não sabia para onde ia o meu dinheiro quando, na crise de 2008, descobri que – com a subida da prestação da casa – só tinha dinheiro para pagar mais duas mensalidades do crédito à habitação. Fui ao banco, pedi ajuda e a carência de capital durante 2 anos permitiu-me ter tempo para pensar e reorganizar as minhas finanças..

Foi com esse “bater com a cabeça na parede” que percebi que tinha de pôr as minhas contas em ordem. Hoje posso dizer que consegui. E é parte desse caminho que quero partilhar consigo.

Assim, o primeiro tema destas crónicas tem a ver com essa tomada de consciência: quanto vale para si o seu dinheiro?

Quem manda no seu dinheiro?

O seu dinheiro (e o da sua família) merece que se sente a uma mesa e que passe a perder algum tempo para pensar nele e na forma como o está a gerir? Faço-lhe esta pergunta porque se não tiver essa atitude, não adianta estar a perder tempo a ler conselhos sobre poupança. Imagine que vai todas as semanas a um nutricionista, que lhe explica como uma dieta o pode pôr saudável e elegante e você concorda, mas não faz rigorosamente nada. Útil? Não. Seria um desperdício de tempo. 

Portanto, se quiser mudar alguma coisa na sua vida (financeira) vai ter de agir. O primeiro passo é sentar-se a uma mesa ou à secretária e, numa folha de papel, fazer uma lista de todas, mas mesmo todas, as suas despesas correntes e anuais.

A forma mais simples de fazer isso é ir ao seu homebanking ou ao seu extrato bancário e ver linha a linha todos os seus gastos. Anote-os. Veja quais são recorrentes, os débitos diretos, e quanto dinheiro levanta no multibanco todas as semanas ou todos os meses. A seguir reveja ao cêntimo em que é que gastou o dinheiro que levantou no multibanco. É aí que vai descobrir muitas surpresas: os pequenos-almoços, lanches, almoços, revistas, jornais, raspadinhas, Euromilhões, parquímetros, arrumadores, gorjetas, bijuterias, gadgets, etc. 

Depois passe às despesas anuais. Com o recurso aos extratos bancários veja quanto pagou de seguros do carro ou carros, de seguros de vida, de IMI e escreva em que meses é que tem de pagar essas despesas obrigatórias.

No final deste exercício vai descobrir (qual detetive) a quem é que tem entregue o seu salário todos os meses (os “ladrões” do seu dinheiro). Vai descobrir que anda a trabalhar para pagar a outros e que não sobra nada para si, ou que sobra muito menos do que deveria sobrar. Na prática, o seu salário não é seu. Assim que o recebe, entrega-o sem refilar (muito), a dezenas de outras pessoas.

O segredo é fazer essa análise caso a caso. E baixar todas as suas despesas uma a uma. Vou ajudá-lo nesse percurso. Mas nesta primeira crónica, o meu objetivo é simplesmente que acorde para esta realidade: tem de ser você a mandar no seu dinheiro!

Vamos tomar as rédeas da sua vida financeira. E note que isto não tem nada a ver com o dinheiro que ganha. Tanto pode ganhar 500 como 5 mil euros. Para as nossas conversas isso é irrelevante. Cada um de nós pode melhorar a sua situação atual. Uns conseguirão melhorar muito, outros melhorar apenas um pouco. Mas é sempre possível melhorar.

Afinal de contas, estamos a falar do presente e do nosso futuro e no futuro da nossa família. Vamos a isso?

O que achou?