Empreender: três histórias de sucesso de negócios por conta própria
Teresa, Joana e Duarte não se conhecem, mas têm uma coisa em comum: arriscaram. Sabem que só assim conseguem dar forma aos seus sonhos, desenhá-los de acordo com os seus planos e ambições. Foram esses planos que os levaram mais longe e hoje orgulham-se de ser jovens empresários, têm negócios por conta própria ou a tempo inteiro, no caso de Joana, ou parcialmente, no caso de Teresa e de Duarte. Às vezes, é só preciso dar o primeiro passo, arriscar e partir numa aventura rumo ao desconhecido, mas que pode, a prazo, dar os seus frutos a nível de rentabilidade, ao mesmo tempo que satisfaz por inteiro quem o executa.
Uma estrategista digital com liberdade
Liberdade é a palavra mais repetida por Joana Sá, quando nos conta a sua experiência. Natural de Braga, tirou o curso de Publicidade e Marketing em Lisboa e desde aí que foi alimentando o sonho de ter um negócio seu. Quando terminou o curso, ainda esteve cerca de 7 anos a trabalhar em agências de comunicação como social media manager, mas o seu foco era outro. Queria ter outras liberdades, que não conseguia enquanto trabalhava por conta de outrem: liberdade digital, financeira, de horários e até de localização. E foi a sua liberdade de escolha que permitiu que começasse a esboçar o seu negócio de empreendedorismo digital.
“Primeiro, achei que devia passar aos outros aquilo que eu sabia. Acabei assim por criar uma comunidade em que pudesse inspirar, sobretudo, as mulheres – porque ainda são as mais discriminadas profissionalmente – a encontrarem o seu próprio caminho no mundo digital, a lançarem-se no mercado digital para venderem online infoprodutos ou outros serviços”, conta a estrategista digital de 28 anos.
Foi no final de 2018 que largou o emprego que tinha para se dedicar em exclusivo à sua nova missão: “educar a população para o empreendedorismo digital e futuro do trabalho”. E 2019 foi assim o ano de arranque, com a Academia Girlbosses Hub – uma academia online que ajuda mulheres a construírem os seus próprios negócios também online, que lhes permitem, lá está, liberdade digital.
A partir daqui, sucederam-se um sem número de iniciativas, como a Girlbosses Mastermind, que já vai na segunda edição, os cursos online “Fórmula Liberdade Digital”, “Marketing & Tecnologia – Sucesso no Digital”, e “Design Skills – Canva para Negócios” e ainda as Mentorias Express via Telegram. Joana Sá promove ainda palestras como a “Remote Shift”, que aconteceu em outubro de 2019 no ISCTE, para 300 participantes, a primeira conferência em Portugal sobre o futuro do trabalho e sobre o trabalho remoto – “isto, quando ainda nem se pensava na pandemia”, diz Joana. Em março de 2020, já em contexto pandémico, a estrategista digital criou ainda o festival “Unstoppable Women”, 100% online para 1.500 participantes, com “o objetivo de criar uma economia circular entre mulheres empreendedoras e freelancers e promover o conhecimento em áreas relevantes para todos, como o Marketing, o Coaching, o Bem-Estar e a Nutrição/Fitness”.
Hoje, Joana já conta com cerca de 400 alunas e mentoradas, um universo que se prevê que aumente ao ritmo que aumentam as novas descobertas digitais.
“Tudo, para que a mulher possa ganhar mais independência e liberdade”, conclui Joana.
Um projeto que começou com uma sangria
Uma sangria de espumante de frutos vermelhos provocou uma epifania em Duarte Cruz, engenheiro mecânico de formação no ativo.
“Fui comprar os frutos vermelhos ao supermercado para fazer a sangria e, de repente, o meu sogro apareceu também em minha casa com uma caixa de mirtilos… Eu que sempre quis produzir mirtilos, parecia que os mirtilos estavam a vir ter comigo”.
Conversa puxa conversa entre sogro e genro, um copo de sangria e os benditos mirtilos, e eis que o entusiasmo subiu de tom quando o sogro lhe disse que disponibilizava um terreno em Santa Comba Dão, com quatro hectares, para que Duarte materializasse o seu sonho – “uma realidade paralela”, como lhe chama, que acumula com as funções de engenheiro e de pai de três crianças.
Tudo começou há 7 anos, em 2014. Primeiro, candidatou-se ao Fundo da União Europeia para jovens agricultores ao mesmo tempo que começou a estudar a cultura do mirtilo, o tipo de solo, os equipamentos e as infra-estruturas. Deparou-se com uma realidade bem maior do que pensava – “há centenas de variedades de mirtilos, além de todo o ciclo de atividade que o projeto envolve”. Compara esse ciclo ao da maternidade. E fala dele com um entusiasmo assinalável. “Há a fase de crescimento vegetativo, depois a da floração e a da apanha do fruto. Ao fim destes ciclos, o pomar entra em dormência, começa a preparar-se para o seguinte desenvolvimento vegetativo”.
Duarte, de 40 anos, embarcou nesta viagem com o cunhado Frederico Baptista, para lançar a marca “Quinta da Regucha”. Adotaram três conceitos, o “farm to office” (levam mirtilos a empresas), o “farm to home” (a casa dos consumidores) e o “farm to table” (a restaurantes), sempre com o objetivo final de entregar o produto diretamente ao consumidor final, sem passar por intermediários.
Neste momento, produzem meia tonelada deste super-fruto por ano. Mas a ideia é conseguir chegar às 30 ou 40 toneladas a curto prazo. Até porque as condições o permitem. Duarte leva os seus conhecimentos de engenharia para a agricultura, moderniza uma atividade ancestral e fala do solo e dos recursos hídricos com conhecimento de causa, em prol de mirtilos de maior qualidade e com maior calibre. O excedente é utilizado para criar outros sub-produtos, é transformado em compota de mirtilos e em infusões. “É também uma forma de trazer sustentabilidade ao negócio”. É uma atividade de fim de semana, mas que lhe exige muita disponibilidade pessoal.
“A minha mulher permite que isto seja possível. Tenho três filhas pequenas e se não fosse ela a dar-me cobertura este projeto não iria para a frente”.
Ao fim de semana, sai de Lisboa um bocadinho antes das 5 da manhã – “afinal, os trabalhos em Santa Comba Dão começam quando o sol nasce”. Mas como quem corre por gosto não cansa, Duarte não se queixa deste esforço adicional, queixa-se sim dos ratos de campo: “os piores inimigos do cultivo de mirtilos e agora os meus também”.
Contar histórias em live sketching
Teresa Dias Costa é um caso raro de criatividade. Formou-se em Arquitetura em 2015, ainda trabalhou num ateliê de arquitetos, mas mesmo aí já fazia capas de CD e desenhos a pedido, sobretudo para amigos e familiares.
“Já na Universidade, as minhas aulas preferidas eram aquelas em que íamos desenhar para a rua, observávamos o ambiente e desenhávamos em tempo real”.
Mas foi ainda antes disso, como animadora de campos de férias para jovens, que a sua imaginação foi posta à prova – transformando os poucos recursos que tinha em ideias criativas e apetecíveis para os seus participantes.
O resto faz o seu traço inspirador. A imaginação já está maturada, o desenho também, mas havia que fazer algo mais com essa vocação. Por que não contar histórias em tempo real?
“Foi através de uma amiga artista plástica, que tinha uma prima que ia casar, que surgiu o desafio do live sketching. Propôs-me que fosse desenhar o casamento. Eu não podia, porque era dia de semana e estava a trabalhar no ateliê, mas fiquei com aquilo na cabeça. Em outubro de 2016, fiz, finalmente, o primeiro casamento de uma prima minha, que acabou por ser o meu presente”.
O passo estava dado. Como não há ainda muitos portugueses a desenharem em casamentos, Teresa nunca passa despercebida. Desperta sempre a atenção dos convidados e o impacto tem sido muito positivo. “As pessoas acabam por gostar muito do resultado final, até porque o live sketching hierarquiza a informação, algo que a fotografia não faz, por exemplo”.
Em 2017, já a trabalhar como designer, o negócio começou a crescer e Teresa Dias Costa passou a ser também uma marca associada a uma boa reportagem de casamento … em desenho. Ao vivo e a cores, Teresa faz ilustrações em aguarelas dos vários momentos emblemáticos de uma boda. Desde o ensaio do coro, à entrada da noiva, ao copo-de-água, até à animação, tudo lhe serve de inspiração, numa reportagem de 8 horas que termina com o cortar do bolo dos noivos. O passa-palavra que foi acontecendo nos próprios casamentos fez com que o negócio começasse a progredir: “cheguei a ter futuros clientes convidados num desses casamentos que foram ter comigo, perguntaram-me como tudo funcionava e ao fim de 10 minutos estavam a fazer uma transferência bancária para reservarem o live sketching para o seu casamento”. Em 2017, Teresa fez quatro casamentos e um batizado, em 2018 fez oito e, em 2019, fez 17.
Ilustrações editoriais, infantis e para publicidade, bem como convites e outros elementos acessórios de casamento ilustrados são outros predicados desta designer. No último Natal, e com o decréscimo dos casamentos devido à pandemia, Teresa começou também a fazer retratos em aguarelas para familiares e amigos, que depois se vão estendendo a amigos de amigos, conhecidos de amigos e por aí fora.
“Tinha capacidade para aceitar 15 retratos para o Natal e na própria manhã em que fiz a publicação, esgotei todos”.
Para responder à curiosidade de quem ainda não sabem bem o que são estas ilustrações em tempo real, Teresa cria também Instagram stories nos casamentos e eventos para os quais é convidada a criar, e onde se sente num ambiente familiar e aconchegado. Afinal, é onde a Teresa e o desenho se complementam.
Se pensa em criar um negócio por conta própria, arrisque também, como fizeram Joana, Duarte e Teresa. Saiba ainda que existe a possibilidade de criar a sua empresa usando o subsídio de desemprego. Veja aqui como este apoio funciona e que deslizes tem de evitar para um negócio ter sucesso.