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Sustentabilidade: o que desperdiça por ano?

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desperdício

Todos os anos, os portugueses deitam para o lixo um milhão de toneladas de alimentos. Segundo o estudo “Do Campo ao Garfo – Desperdício Alimentar em Portugal”, realizado em 2012, cada pessoa desperdiça em média 132 quilos de comida por ano. Quando toca às famílias, os números atingem 324 mil toneladas. E 17% da comida é deitada fora ainda antes de chegar aos consumidores.

No mundo inteiro, um terço dos alimentos produzidos são desperdiçados. De acordo com as Nações Unidas (ONU), isto representa 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos – cerca de mil milhões de dólares.

Números que contrastam com o facto de mais de 820 milhões de pessoas em todo o mundo ainda passarem fome – número que pode duplicar, alerta a ONU, por causa da pandemia de coronavírus.

Perante estas discrepâncias, o que é que está nas nossas mãos? Se está a pensar que sozinho não pode mudar o mundo, lembre-se que é com pequenos gestos que o mundo muda um pouco todos os dias. A alimentação é um exemplo, entre muitos outros. E cabe a cada um de nós fazer a sua parte para combater o desperdício.

O Contas Connosco reúne os números mais impressionantes e sugere o que pode fazer, na sua vida e no seu dia-a-dia, para mudar os seus hábitos e ajudar o ambiente.

Alimentação

Desperdício
  • Cada português desperdiça 132 quilos de comida por ano
  • No mundo inteiro, são desperdiçados 1,3 mil milhões de toneladas de alimentos por ano, segundo a ONU
Como combater

1. Aproveite a comida e não a deite fora

Se costuma comer fora, não tenha vergonha de pedir para levar os restos para casa. É um hábito muito comum nos Estados Unidos, por exemplo, e em muitos restaurantes em Portugal já começa a ser habitual. Assim, não desperdiça comida. Mas não se esqueça de levar a sua própria caixa reutilizável de forma a não ter de utilizar mais uma embalagem de plástico do restaurante. Em casa, faça listas de compras, planeie as refeições, aproveite as sobras para fazer outros pratos e, se quiser ir mais longe, faça compostagem com os resíduos alimentares.

2. Entenda as datas de validade dos alimentos

Muitas pessoas ao verificarem que um determinado produto passou da data de validade já não o consomem. No entanto, em 2019, a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) lançou uma campanha para combater o desperdício alimentar onde explica as diferenças entre “consumir até”, “consumir de preferência antes de”, “consumir de preferência antes do fim de” e “aproximação do fim do prazo de validade”. A ideia a reter é: quando vir um produto com “consumir até” trata-se mesmo da data limite para consumi-lo. Nas restantes indicações, o produto pode ser consumido após a data desde que se respeitem as regras de conservação.

3. Não escolha fruta e legumes pelo aspeto

Durante muitos anos, a União Europeia impôs normas de calibragem à fruta e legumes dos estados-membros. No entanto, estas medidas foram revogadas em 2009 e, desde então, já é possível vender fruta e legumes com formas menos perfeitas ou com um aspecto não tão reluzente, desde que cumpram as normas de segurança e higiene. O problema é que os olhos também comem e, muitas vezes, escolhemos pelo aspecto. Mas pense bem: quantas vezes já comprou fruta bonita que, na realidade, não era saborosa? Pois é. Além disso, ao deixarmos de parte os alimentos que têm uma imagem menos atrativa também estamos a contribuir para o seu desperdício. Ponha esses preconceitos de lado e experimente serviços como, por exemplo, o da Fruta Feia: além de comprar diretamente aos produtores locais e ajudar a economia portuguesa, ainda ajuda a combater o desperdício.

4. Reduza o consumo

De acordo com dados citados pelo The Guardian, para gerar um quilo de carne de vaca são necessários, em média, mais de 15 mil litros de água e elevadas emissões de dióxido de carbono e metano. Isto além da ocupação do solo e da energia necessária para produzir toneladas de ração.

Reduzir o consumo ajuda a diminuir a pegada ecológica.

Outra das formas de reduzir o consumo, em geral, é comprar a granel. Já é possível fazê-lo em mercearias e superfícies comerciais: desde grão, feijão, cereais, chá, vários tipos de sementes, especiarias entre várias outras coisas. No entanto, há ainda alguns produtos – como o arroz ou o açúcar – que só são vendidos em embalagens. De acordo com o blog Mind the Trash, que cita o decreto de lei n.º 157/2017, artigo 7º , “o arroz e a trinca de arroz só podem ser vendidos a granel se os destinatários forem, industriais, grossistas, entidades equiparadas e exportadores”. Ou seja, não podem ser vendidos a granel diretamente ao consumidor final.

Para guardar os produtos que compra a granel não precisa de investir em frascos ou embalagens. Reutilize os frascos de vidro do grão, feijão e conservas para esse efeito: depois de lavados (ou até esterilizados) servem perfeitamente. Assim, poupa dinheiro e também o ambiente.

5. Apoie-se no digital

Também é possível combater o desperdício através do mundo digital. Se é fã de aplicações, tem de descobrir estas. Através da Too Good To Go pode encomendar uma Magic Box “e salvar comida que iria ser desperdiçada”. Segundo informação disponibilizada no site, as caixas “contêm sempre comida em perfeito estado para consumo e, na maioria dos casos, comida cozinhada no próprio dia”.

O projeto Phenix surgiu em França em 2014, com o objetivo de reduzir o desperdício da grande distribuição, ou seja, super e hipermercados. Através da aplicação, lançada em 2019, os comerciantes colocam cabazes com uma descrição do que contém e, desta forma, os consumidores podem comprar produtos a baixo custo que, de outra forma, iriam para o lixo. Ou seja, poupa dinheiro e ajuda a combater o desperdício.

Já a Good After é uma espécie de supermercado alternativo: vende alimentos com embalagens descontinuadas, perto do fim de validade ou mesmo fora de prazo.

Roupa

Desperdício

De acordo com o site Recicla, que refere dados da Fashion Footprint, uma calculadora produzida pela Farfetch que mede o impacto ambiental das roupas, são necessárias:

  • 100 banheiras de hidromassagem cheias de água para produzir um quilo de algodão
  • 171 banheiras para produzir um quilo de couro
  • 582 banheiras para produzir um quilo de seda

Além disso, na produção de alguns materiais, é emitida a seguinte quantidade de dióxido de carbono (CO2):

  • a produção de um quilo de lã emite 46 quilos de dióxido de carbono, o mesmo que conduzir 184 quilómetros, a distância aproximada de Lisboa a Beja
  • A produção de um quilo de algodão liberta 28 quilos de CO2, o equivalente a conduzir de Sagres a Faro
Como combater

1. Reduza, reutilize e recicle

Segundo o Green Alliance, um grupo de reflexão britânico sobre questões ambientais, em declarações ao jornal The Guardian, a indústria da moda é responsável por mais emissões de carbono do que a aviação e o transporte marítimo juntos. Por isso, antes de comprar uma peça de roupa, pense se precisa realmente dela. Depois, invista na qualidade em vez de quantidade. Avalie se é uma boa peça, versátil, que vai durar vários anos. Outro aspecto relevante, salientado pelo blog Mind the Trash, é o de “não fazermos compras online por impulso”. Muitas vezes, encomenda-se uma peça sem ter a certeza se gostamos ou se é o tamanho certo e acabamos por devolver até porque, na maior parte dos casos, não tem custos para o consumidor. No entanto, tem custos elevados para o ambiente porque “aumenta muito mais a pegada de transporte” do que se fossemos à loja física. Se tem crianças, resista à tentação de estar sempre a comprar coisas novas. Os miúdos crescem rápido e vão usar a roupa duas ou três vezes. Peça emprestado a amigos com filhos, faça trocas ou recorra a lojas em segunda mão. Hoje em dia, com umas dicas ou aulas de costura, também pode reciclar ou reaproveitar algumas peças. Se as calças deles já estão curtas, corte e faça uns calções. Ou então aproveite o tecido para fazer uma bolsa ou carteira. E, já agora, não deite a roupa estragada no lixo.

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2. Compre em segunda mão

São muitas as lojas físicas e online que vendem roupa e calçado em segunda mão ou vintage. É mais barato e é possível encontrar artigos praticamente novos. Mesmo para uma ocasião especial, como um casamento, poderá fazer sentido usar roupa emprestada: aposta na tradição e no simbolismo, poupa dinheiro e ajuda o ambiente. A calculadora da Farfetch, citada pelo Recicla, também consegue estimar quanto se poupa em termos ambientais quando compramos peças usadas: “por exemplo, ao adquirir cinco vestidos já utilizados são poupados cinco metros cúbicos de água e quatro quilos de resíduos – o equivalente a uma viagem de avião entre Londres e Paris”.

Além de roupa, também pode encontrar em segunda mão livros, bijuteria, filmes, móveis, eletrodomésticos, entre várias outras coisas.

3. Aposte em produtos e marcas sustentáveis

De acordo com o blog Ana Go Slowly, fundadora do movimento Lixo Zero Portugal, os melhores tecidos, do ponto de vista ambiental e da sustentabilidade, são algodão biológico, cânhamo, linho e lã. Em sentido oposto, deve evitar acrílico e poliester. Quanto às marcas, a autora partilha uma lista de lojas zero waste.

Outra questão passa também por reduzir a pegada ecológica negativa que resulta do transporte utilizado para comprar a roupa. Naturalmente, é importante apoiar os produtores locais, sobretudo numa altura de crise, em que é necessário recuperar a economia nacional

4. Leia as etiquetas

Se quer abraçar a causa da sustentabilidade e do desperdício zero, é importante aprender a distinguir alguns conceitos, que aparecem nas etiquetas da roupa. Perceba o que significam, de acordo com o blog Ana Go Slowly:

  • Biológico/Orgânico: produzido sem químicos
  • Reciclado: peças feitas através de outras peças ou outros materiais já utilizados (aqui pode ser não só tecido, mas também plástico, etc).
  • Fair Trade/Comércio justo: garantia de que os trabalhadores não são explorados, recebendo um salário justo pelo seu trabalho e tendo boas condições no local de trabalho
  • Vegan: sem qualquer material de origem animal (lã, couro, seda)

Plástico

Desperdício
  • De acordo com a ONU, num estudo apresentado em 2018, são produzidos mais de 400 milhões de toneladas de plástico por ano.
  • Segundo um estudo publicado em 2018 pela World Wildlife Fund (WWF), em Portugal 72% do lixo encontrado em zonas industriais e de estuários são microplásticos. As zonas mais afetadas são Lisboa e a Costa Vicentina pela proximidade aos estuários do Tejo e Sado. Isto tem consequências na cadeia alimentar marinha e nos humanos. Estima-se que 20% dos peixes de consumo quotidiano tenham microplásticos nos seus estômagos e 80% das tartarugas-marinhas-comuns comam lixo – que na sua maioria é plástico.
  • De acordo com um um estudo publicado na revista Environmental Science and Technology e divulgado pelo The Guardian, de cada vez que comemos carne, peixe ou bebemos água engarrafada, estamos a ingerir plástico. O que significa que, por ano, consumimos cerca de 50 mil partículas de plástico.
Como combater

1. Opte por um saco de compras reutilizável

Evite ao máximo estar sempre a comprar sacos de plástico. Estes sacos exigem mais de 8 mil barris de petróleo para a fabricação e apenas cerca de 5% são reciclados. Em Portugal, foi definido, em 2014, iniciar a cobrança de 10 cêntimos por cada saco para promover a utilização de sacos reutilizáveis.

2. Utilize a mesma garrafa de água

Beber água engarrafada pode sair caro e é, na maioria dos países industrializados, desnecessário, uma vez que a água do sistema público de abastecimento é potável e de boa qualidade. Em vez de comprar diariamente uma garrafa de água, opte por garrafas reutilizáveis.

3. Evite utilizar pratos e talheres de plástico

França foi o primeiro país a proibir a venda de pratos e de talheres descartáveis pelo mal que o seu fabrico faz ao ambiente e pelos custos que isso acarreta. Evite ao máximo utilizá-los. Se faz a sua refeição no emprego, leve uma caixa de vidro e coma daí diretamente, ou leve um conjunto de prato, talheres e copos. No mesmo sentido, recuse palhinhas. Se fizer questão de utilizá-las ou as crianças gostarem, escolha as reutilizáveis (de aço inoxidável, vidro, bambu ou massa)

4. Reduza, reutilize e recicle

O principio é sempre o mesmo e é possível aplicá-lo passo a passo, com pequenas mudanças no dia-a-dia.

O movimento Plastic Free July (mês de Julho sem plástico) surgiu na Austrália e, ao juntar-se a ele, pode aprender como reduzir o plástico em todas os momentos. Alguns exemplos:

  • Em casa: utilize escovas de dentes de bambu ou outro material sem plástico; recuse utensílios descartáveis como as lâminas,  discos desmaquilhantes, pensos higiénicos ou tampões; prefira champô sólido, sabonetes e pasta de dentes orgânica em frasco de vidro. Recuse as caixas de plástico e troque-as por vidro. Em vez de utilizar sacos descartáveis ou papel de alumínio para embrulhar sandes, compre reutilizáveis ou faça os seus, por exemplo, em tecido. Na cozinha, utilize uma esponja da loiça reutilizável.
  • No supermercado: recuse comida embalada – desde cereais, carne, peixe, snacks, bolachas, etc; leve os seus próprios sacos e embalagens reutilizáveis para o supermercado ou mercearia. Já reparou que até as saquetas de chá usam plástico? Compre antes as folhas de chá e faça a sua infusão em casa.
  • No trabalho: utilize uma chávena de loiça para o café ou chá; incentive os seus colegas a separar o lixo e a reciclar; tenha a sua própria loiça e leve a comida em embalagens de vidro reutilizáveis.
  • De férias: junte um grupo, na praia ou no campo, e organize um evento ecológico. Por exemplo, apanhar todos os resíduos da areia da praia. Pode ser uma atividade didática para as crianças também. Por razões de segurança, lembre-se que vai precisar de luvas, baldes para colocar o lixo, sapatos fechados (para ninguém correr o risco de se magoar) e, se estiver calor, água e protetor solar.

Não tenha a ambição de querer fazer todas as mudanças de uma vez só, de forma radical. Passo a passo, vai conseguir implementá-las, obter poupanças e incentivar as pessoas à sua volta a seguir o mesmo exemplo.

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