Comprar ou arrendar casa? Eis a questão
Comprar uma casa é uma das decisões mais importantes da nossa vida. Neste artigo, falamos-lhe das tendências de preços e de vários aspetos que podem ajudá-lo a tomar a melhor decisão.
Um T2 com varanda frente ao mar, uma vivenda isolada com jardim, uma penthouse com vista para a cidade. Todos temos a nossa ideia de casa de sonho, aquela que será para sempre, seja para duas pessoas ou para uma grande família. Mas atingir essa meta não é fácil e antes disso há um longo caminho, com dúvidas e decisões, e muitas vezes com várias casas pelo meio.
A pergunta mais importante que quase todas as pessoas fazem a dada altura nas suas vidas é: devo comprar casa ou arrendar casa?
A resposta poderia ser reduzida a uma resolução matemática. É mais caro ficar a pagar uma prestação ao banco ou desembolsar mensalmente a renda?
Todavia, a comparação do custo mensal não é suficiente, porque ignora, por exemplo, o facto de ficar proprietário da habitação no final do prazo do crédito (o que não acontece com os apartamentos para arrendar) e o prazer que se pode ter (ou não) de se viver numa casa própria.
A resposta mais consciente depende de vários fatores, que devem ser bem medidos, independentemente de o dinheiro ser fundamental nesse cálculo.
Para tomar uma decisão, antes de começar a busca da casa dos seus sonhos, faça um levantamento de mercado sobre os preços praticados que para venda ou arrendamento, bem como as taxas de juro cobradas pela banca no caso de ter de contratar um crédito habitação.
Preços sobem, mas existe mais oferta para comprar casa
O valor das casas subiu bastante nos últimos anos em Portugal, com o mercado imobiliário a estar particularmente dinâmico nas principais cidades e zonas turísticas, bem como nas áreas urbanas adjacentes. A pandemia trouxe uma ligeira correção nalgumas zonas, mas acabou por provocar aumentos noutras que estavam mais estáveis, principalmente fora das cidades. Neste momento, vivem-se tempos de incerteza no mercado imobiliário. Fala-se muito, mas só o tempo dirá o que vai acontecer com os preços das casas.
Para já, os preços de arrendamento e venda de casas em Portugal apresentaram em janeiro de 2023 uma tendência generalizada de descida relativamente a dezembro de 2022, mas continuam elevados face ao período homólogo.
Falando de arrendamento, Lisboa é neste momento o distrito mais caro para arrendar casa (2.084 euros), seguindo-se o Porto (1.322 euros) e Faro (1.229 euros). Os distritos mais baratos para arrendar são Bragança e Portalegre, com rendas médias inferiores a 500 euros.
Quanto à venda de casa, o preço médio diminuiu 2,8% face a dezembro. O valor médio ronda agora os 401.000 euros, o que representa uma subida de quase 30.000 euros face a ao período homólogo.
De dezembro de 2022 para janeiro de 2023, Évora e Castelo Branco foram os dois distritos que registaram um aumento nos preços médios da venda de casas.
Neste momento, os distritos onde se verificam valores mais baixos são a Guarda e Portalegre e os mais caros são Lisboa, Faro e a Região Autónoma da Madeira. Os dados são de um estudo feito pelo Imovirtual.
Este aumento do valor dos imóveis, impulsionado por vários fatores, como a inflação, a guerra na Ucrânia, o turismo e o investimento internacional, acompanhado do aumento das taxas de juro que estão a fazer disparar as mensalidades do crédito à habitação, então a ser um fator de peso na vida económica dos portugueses. Se quer decidir entre comprar ou arrendar, esteja consciente de que essa decisão deve ser muito ponderada, para que não ponha em risco o cumprimento dos seus compromissos financeiros.
Como decidir entre comprar casa ou arrendar casa?
Na altura de tomar uma decisão – seja porque estamos a sair de casa dos pais, porque a família está a aumentar ou porque vamos mudar de emprego – é preciso olhar para os rendimentos mensais e poupanças acumuladas, mas também para o estilo de vida e interesses, ou para a carreira profissional e perspetivas. Antes de decidir pergunte-se:
- Tem um salário fixo e algumas poupanças?
- Tem um emprego estável e não prevê mudar?
- Imagina-se a mudar de zona ou cidade ao longo dos anos?
- Quer aumentar a família e dar estabilidade às crianças?
- Prefere pagar um valor mensal alto, mas não ter de lidar com outros custos e burocracia?
Comprar casa tem vantagens, mas também riscos
Um dos principais incentivos à compra de casa é o seu valor após pagar o empréstimo, porque é um bem que fica na família, que pode ser usado e transmitido como herança ou vendido. Mesmo que o valor de venda seja inferior a todos os custos que se teve ao longo dos anos, numa casa arrendada é que não há qualquer recuperação de valor. Mas também pode haver desvantagens em comprar uma casa.
Vantagens de comprar casa:
- Propriedade do imóvel, que passa a ser um ativo, um investimento;
- Alterar e decorar a casa exatamente como queremos;
- Estabilidade, não temer o fim de um contrato;
- Custos mensais normalmente inferiores a uma renda.
Desvantagens de comprar casa:
- Necessidade de um grande investimento inicial;
- Burocracia, seguros, impostos e todos os custos que isso acarreta;
- Responsabilidade total sobre obras que sejam necessárias na casa;
- Menos mobilidade, em caso de mudanças profissionais.
Arrendar casa não é só perder dinheiro
Pagar uma renda durante muitos anos parece um mau negócio e, na verdade, feitas as contas o valor de toda uma casa é gasto em menos tempo do que muitas vezes pensamos. Num apartamento com um valor de 200 mil euros, por exemplo, cuja renda seja 750 euros, os inquilinos pagam o equivalente ao total da casa em 22 anos – isto sem contar com aumentos anuais na mensalidade. No entanto, isso não significa que arrendar casa é deitar dinheiro para o lixo, há vantagens e desvantagens nessa opção.
Vantagens de arrendar casa:
- Custo fixo mensal, sem burocracias;
- Liberdade para mudar mais rapidamente;
- Menos responsabilidade e custos com a manutenção;
- Menor compromisso, menos risco financeiro.
Desvantagens de arrendar casa:
- Não há retorno no dinheiro que é gasto;
- Risco do fim do contrato;
- Renda normalmente mais alta do que a mensalidade de um crédito;
- Menor ‘ligação emocional’ à casa.
Comprar uma casa é um investimento seguro?
Os imóveis são normalmente vistos como um investimento, como se de um depósito a prazo ou uma carteira de ações se tratasse. Neste aspeto, tendo em conta a inflação e a constante evolução do mercado imobiliário, uma casa pode ser vista como uma aposta segura, sem grandes riscos. Mas não se pode esperar um enorme retorno financeiro, que ficará, isso sim, para quem herdar a habitação. E se tivermos em conta os custos relacionados com um crédito para comprar casa, menos compensa esse investimento como tentativa de gerar lucro.
Um investidor mais ativo e experiente, com perfil de risco, que tenha a poupança adequada para dar entrada de uma casa, pode preferir investir esse dinheiro noutras aplicações financeiras, que lhe dêem um maior retorno a curto ou médio prazo. Em poucos anos essa entrada pode ser transformada numa poupança maior ou na possibilidade de comprar uma casa melhor, compensando os custos de viver mais algum tempo numa casa de renda.
Arrendar casa para o presente, comprar casa para o futuro
Cada situação familiar é diferente, pelo que tal como é difícil dar uma resposta certa sobre comprar ou arrendar casa, também não é fácil definir o tipo de pessoa para cada opção. No entanto, arrendar é uma boa solução quando não há muito dinheiro para a entrada de uma casa, ou quando o salário é baixo e o vínculo profissional incerto. Todos esses fatores dificultam a obtenção de crédito bancário, e estão normalmente associados a jovens ou casais em início de vida.
Já a compra de uma casa implica um bom investimento inicial, habitualmente 30% do valor, e uma situação financeira estável, para ajudar a conseguir o crédito. Isso normalmente acontece em pessoas ou casais já com alguns anos de vida profissional, com objetivos de vida bem definidos. É para essas pessoas e famílias que a “casa para a vida” faz mais sentido, no longo prazo compensa sempre.
E o recheio? Uma casa não pode estar vazia!
Na altura de mudar para uma nova casa, seja uma casa comprada ou arrendada, há outro aspeto muitas vezes esquecido: a mobília e os eletrodomésticos. Trocamos de casa para uma maior, ou investimos na compra de uma casa com mais divisões, a pensar no escritório ou no quarto extra que pode vir a ser necessário. Mesmo que já tenhamos uma boa cama e uma estante gira para a sala – ou então uma televisão de grandes dimensões e um sofá confortável a acompanhar -, há peças novas que precisamos de comprar ou eletrodomésticos que mais vale trocar.
Quando se arrenda uma casa, é necessário acrescentar mais uma ou duas rendas no início do contrato. E quando se compra uma casa, tentamos usar todo o dinheiro possível logo na entrada e nos impostos ou outras despesas que é necessário pagar, como o IMT ou a escritura. É fácil antever então uma habitação com algumas divisões um pouco vazias ou com uma cozinha menos equipada. A solução nestes casos pode estar num crédito pessoal para recheio, que tanto serve para quem gastou as poupanças na caução da renda como para quem colocou as fichas todas a aumentar a entrada para a casa.
Um crédito pessoal para recheio pode ser pago em vários anos, o que permite definir uma mensalidade baixa que não interfira com a renda ou a prestação da casa em termos de orçamento familiar. Na Cofidis, por exemplo, um crédito pessoal Lar e Recheio no valor de 5.000 euros – suficientes para equipar quase uma casa inteira – para pagar em 84 meses, representa uma mensalidade de 87,47 euros, com uma TAEG de 13,0%, uma TAN de 11,25% e o MTIC de 7.435,48€.
Comprar uma casa é uma das decisões mais importantes da nossa vida, um compromisso para a vida que muitas vezes até supera o tempo que dura a relação entre as pessoas que partilham uma casa.
Por outro lado, comprar casa retira flexibilidade à vida, em particular no aspeto profissional. É por isso que muitas famílias adiam a decisão de aquisição para mais tarde.
Uma coisa é certa. Apesar do aspeto financeiro pesar e muito, a sua decisão de comprar ou de arrendar casa deve depender não só das contas ao orçamento familiar, mas também da fase da vida em que se encontra.