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Inflação: qual a melhor altura para comprar casa?

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Inflação: qual a melhor altura para comprar casa?

Está nos seus planos comprar casa, mas não sabe se deve avançar já ou esperar que os preços baixem? Leia este artigo e esclareça as suas dúvidas.

O mercado imobiliário vive momentos de incerteza. E a incerteza é o maior inimigo de quem pretende comprar casa. A pergunta “Comprar ou esperar?” parece simples, mas não o é. E como tal, a resposta é complexa. Uma certeza que pode ter é que informar-se e analisar a sua situação é a melhor via para tomar a melhor decisão. Para tal, comece por entender o que se passa no mercado imobiliário.

De que forma a inflação influencia o mercado imobiliário?

O atual contexto económico influencia vários setores, entre os quais o imobiliário. Apesar de, em 2021 e em 2022, o mercado imobiliário em Portugal ter batido recordes, todas as previsões apontam para que, em 2023, a procura e o investimento venham a abrandar.

De acordo com o Banco Central Europeu (BCE), os preços da habitação na generalidade dos países da Zona Euro deverão registar uma descida nos próximos dois anos. No entanto, tenha em conta que esta queda deverá ser gradual. Os preços das casas não caem de repente. O setor imobiliário precisa de tempo para que um mercado em queda se reflita em preços de casas mais baixos, ao contrário do que se passa no mercado de ações, por exemplo. Porque é que isto acontece? Quando diminui a procura, diminui também o número de transações. E só alguns meses depois quem vende é “obrigado” a baixar os preços.

Perante este cenário, pode concluir-se que é, pelo menos, previsível que haja uma correção num mercado que tem estado fortemente inflacionado, contrariando a bolha imobiliária que tem sido alimentada nos últimos anos.  

Que fatores podem levar à descida do preço das casas?

Por um lado, a diminuição da procura, que está relacionada com o facto do crédito estar mais caro, ou seja, menos acessível aos compradores que precisam de contrair empréstimos para adquirir casa.

De forma generalizada, havendo uma redução do poder de compra, e o consequente aumento médio dos tempos de venda das casas, prevê-se que haja uma maior concentração de imóveis à venda. E nesta perspetiva, poderá antever-se uma queda dos preços.

Há também quem esteja a aguardar por boas oportunidades de comprar a preços baixos, como consequência do aumento do crédito malparado, resultante do aumento das taxas de juro. É caso para dizer que o mal de uns é a sorte de outros. Quem tem dinheiro para investir neste setor poderá vir a encontrar bons negócios dentro de alguns meses, quando alguns deixarem de ter capacidade para cumprir com o pagamento das prestações da casa.

O que dizem os especialistas?

As opiniões dividem-se, mas há um aspeto consensual entre as antevisões da maioria dos analistas: a queda da procura, decorrente do aumento da inflação e dos juros.

Quanto à antevisão da queda dos preços, as dúvidas são muitas, de acordo com a seguinte leitura: a baixa dos preços está dependente da relação da procura com a oferta local. Acontece que, em muitas zonas do país, não se prevê um aumento relevante da oferta, uma vez que esta é escassa e que é impossível inverter essa realidade num curto prazo. Logo, não é previsível que os preços baixem.

A exceção poderão ser as casas em localizações específicas, menos apelativas, e inseridas em determinados segmentos de preço.

A importância do ciclo de aumento das taxas de juro

Nesta conjuntura há poucas certezas, mas uma delas é que a direção do mercado imobiliário dependerá muito da duração do ciclo de aumento das taxas. Mesmo que os preços das casas baixem, a continuação da subida das taxas de juro continua a impedir que muitos interessados em comprar casa possam avançar. Logo, quem pretende comprar casa deve acompanhar a evolução das taxas de juro.

É boa altura para comprar casa como investimento?

Os investimentos imobiliários são uma das opções mais comuns para quem tem algum dinheiro para investir, sobretudo os pequenos investidores, que compram para depois arrendar ou então para remodelar e vender novamente.  

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Neste caso, tenha em conta, além do investimento inicial, os gastos com obras, manutenção, impostos e condomínio. Quando compra para investimento, deve fazer contas a médio e longo prazo, para perceber se lhe compensa.

Se tem dinheiro disponível e não precisa de recorrer ao crédito, então pode ficar atento a boas oportunidades e investir numa casa com alguma margem de segurança, até porque o dinheiro “parado” também não rende nada.  

Seja realista e garanta que consegue pagar a prestação da casa

Se quer mesmo comprar casa, ou porque a família vai aumentar ou porque quer tornar-se independente, avalie previamente, de forma realista, se conseguirá fazer face ao aumento das prestações da casa. Sobre a melhor altura para avançar, decida se prefere comprar já, a um preço mais alto e juros mais baixos, ou comprar daqui a uns meses, possivelmente por um melhor preço, mas com as taxas de juro provavelmente ainda mais elevadas.

Escolher taxa fixa ou taxa variável no crédito habitação?

Esta é mais uma decisão que deve tomar de forma ponderada. A escolha do tipo de juros – fixo ou variável – deve ser tomada de acordo com a sua capacidade e estabilidade financeira. Se vai pedir um crédito habitação, passará a ter um encargo mensal que vai pesar no seu orçamento durante muitos anos. Analise a sua situação e veja o que será mais indicado no seu caso.

Se optar por uma taxa de juro variável e indexada à Euribor, as suas prestações vão sofrer aumentos pelo menos nos próximos tempos. A Euribor está a subir em todos os prazos e a atingir máximos dos últimos anos. Neste caso, tem de ter um orçamento suficiente folgado para conseguir fazer face ao aumento da prestação da casa. Por outro lado, quando a Euribor começar a cair (o que ninguém sabe quando acontecerá), a sua prestação irá baixar.

Ao optar pela taxa fixa, a prestação da casa será constante e sem surpresas. No entanto, implica pagar uma taxa de juro um pouco mais elevada, com reflexo no valor da prestação.

Em caso de dúvida, saiba que a taxa fixa pode ser a opção mais segura para famílias com rendimentos mais reduzidos.

A importância da valorização da casa

Esta dica é importante. Antes de tomar a decisão final – e a menos que vá comprar a casa onde quer viver o resto da vida – tenha em conta se é um imóvel que será valorizado. Fatores como um futuro centro comercial, hospital ou estação de metro por perto vão contribuir para a valorização do imóvel, o que pode ser benéfico se pensar numa futura venda.

Para si, o preço é o mais importante?

Se pensarmos na compra de uma casa de forma racional, o preço não é o único fator a considerar. Em primeiro lugar, pergunte-se a si próprio: quanto tempo vai viver nessa casa? Adquirir um imóvel para habitação própria e permanente faz sentido se pensar nela como um projeto a longo prazo. Se pondera vir a mudar de cidade ou não tem a certeza de que ficará ali durante uns bons anos, compensará mais o arrendamento.

Por outro lado, além do preço, outros fatores devem estar de acordo com as suas necessidades e expetativas. A localização e a distância ao local de trabalho, os acessos, a tipologia e os serviços e equipamentos são aspetos relevantes. Todos estes fatores, além de satisfazerem as suas necessidades, influenciam a sua qualidade de vida. O tempo e o dinheiro que gasta para ir trabalhar todos os dias, para ir levar os filhos à escola, para ir ao supermercado, também contam. Descurar estes aspetos representará um peso adicional no seu dia a dia.

Afinal, qual é o melhor momento para comprar casa?

Para terminar, respondemos com uma frase do milionário americano Warren Buffet, que se aplica ao mercado imobiliário: “O ideal é comprar quando todos querem vender e vender quando todos querem comprar”.