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15 questões sobre tratamentos de infertilidade

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tratamentos de infertilidade

Não há números exatos, mas dizem dados oficiais que os problemas de fertilidade afetam um em cada seis casais no mundo, durante a vida reprodutiva. A prevalência da infertilidade com duração de, pelo menos, 12 meses rondará os 9% nas mulheres com idade entre os 20 e os 44 anos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). A boa notícia é que, graças aos avanços da ciência e da tecnologia, a Medicina da Reprodução oferece hoje um conjunto de respostas que permite à maioria dos casais a concretização do desejo de serem pais.

Se nunca fez tratamentos de infertilidade, mas este é um assunto que lhe interessa, as linhas que se seguem são para si. Fizemos um apanhado de questões relevantes sobre este tema. Ao todo, são 15 questões às quais respondemos de forma descomplicada, resumida, e tendo sempre em conta que cada caso é único e que só o seguimento por especialistas poderá determinar qual o melhor tratamento para a(s) pessoa(s) em questão. 

1. Em que situações se considera que existe infertilidade?

Quando não se consegue obter uma gravidez após um ano de tentativas. Nos casos em que a mulher tem mais de 35 anos, o limite desce para 6 meses. Estamos também perante uma situação de infertilidade se a mulher, apesar de conseguir engravidar, não conseguir levar a gravidez até ao fim.

2. Esterilidade é o mesmo do que infertilidade?

Não. A esterilidade é a incapacidade de um indivíduo ou de um casal conceber. A infertilidade impede um casal de levar a gravidez até ao fim com um recém-nascido saudável, mesmo que consiga uma gestação.

3. Existe maior percentagem de infertilidade feminina ou masculina?

Regra geral, um terço das causas estão relacionadas com a mulher, outro terço com o homem, e os casos restantes resultam de uma combinação de problemas dos dois.

4. É possível identificar as causas da infertilidade?

Nem sempre. Em cerca de 10% dos casos, não é possível identificar as causas.

5. Quais as principais causas da infertilidade masculina?

São vários os fatores que podem afectar a produção de espermatozoides, entre os quais: varicocelo (dilatação das veias dos testículos); alterações na capacidade de movimentação dos espermatozoides; trauma do testículo; doenças renais; alterações hormonais; papeira; consumo de álcool, drogas ou tabaco (porque reduz o número de espermatozoides saudáveis); e ainda o contacto com pesticidas, medicamentos, exposição a radiações ou quimioterapia. 

6. E as principais causas da infertilidade feminina?

A maioria dos casos resulta de problemas na ovulação. Por exemplo, uma das causas mais comuns é a síndrome do ovário poliquístico, um problema que gera um desequilibro hormonal que interfere com a ovulação. Outra causa comum é a insuficiência ovariana primária, uma situação que ocorre quando os ovários deixam de funcionar normalmente antes dos 40 anos de idade. Mas existem outras causas, nomeadamente a endometriose, fibromiomas, pólipos do útero, doença inflamatória pélvica, doenças da tiróide, antecedentes de interrupção voluntária da gravidez ou abortos de repetição. Tal como no caso masculino, também o consumo de álcool e tabaco, o stress, a má nutrição, o excesso de atividade física e problemas de peso são fatores que influenciam a fertilidade.

7. E a idade?

É também um fator importante. Com o passar dos anos, os ovários tornam-se menos capazes de liberar óvulos, o número de óvulos é menor e não são tão saudáveis. A idade reprodutiva avançada é uma das causas de infertilidade. A partir dos 40 anos a possibilidade de engravidar é inferior, mas não impossível.  

8. Como é feito o diagnóstico de infertilidade? 

O diagnóstico pode ser moroso e dispendioso. É feito por fases e com a presença dos dois elementos do casal. Começa com uma avaliação inicial, na qual é importante conhecer os hábitos sexuais do casal. Além observação médica, serão necessários exames laboratoriais, estudos genéticos, hormonais e alguns métodos de imagem. Para as mulheres, um aspeto fundamental é perceber se a ovulação ocorre todos os meses. No caso dos homens, um dos testes mais relevantes é o espermograma, para avaliar a qualidade do esperma.

9. Como se trata a infertilidade?

Cada caso é um caso e pode não haver uma receita infalível. Hoje, felizmente, o leque de tratamentos é variado e os avanços na ciência permitem tratar a maioria dos casos de infertilidade. O tratamento vai sempre depender da causa e poderá incluir, por exemplo, medicamentos, inseminação artificial, cirurgia, reprodução assistida ou uma combinação de várias técnicas. O tratamento pode incidir na correção das causas ou, quando tal não é possível, no  recurso a técnicas de reprodução medicamente assistida, que permitem resolver casos que há uns anos eram de difícil resolução.

10. É possível prevenir a infertilidade? 

Não, mas é possível evitar comportamentos propícios a gerarem situações de infertilidade. “Candidatos” a pais e mães não devem fumar nem consumir álcool em excesso. No caso das mulheres, recomenda-se ainda a redução do consumo de cafeína, o exercício regular e cautela no uso de medicamentos.

11. Como se lida com a infertilidade? 

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Não é fácil gerir as expectativas, sobretudo porque não é possível saber quando, e se, o problema vai ficar resolvido. Trata-se de uma situação que transporta uma pesada carga emocional. Muitas vezes, a infertilidade gera sentimentos de frustração pessoal e familiar, chegando a causar problemas ao nível da inserção social.

12. Que tipos de tratamentos existem hoje?  

São inúmeros os tipos de tratamentos destinados a tratar situações de infertilidade. Alguns dos tratamentos mais comuns em Portugal são: 

Inseminação Artificial: uma amostra de sémen, preparada previamente no laboratório, é colocada no interior do útero da mulher a fim de aumentar o potencial dos espermatozoides e as possibilidades de fertilização do óvulo. Pretende-se facilitar a fertilização.

Fertilização In Vitro (FIV): o encontro entre o óvulo e o espermatozoide acontece fora do corpo da mulher, no laboratório. Só depois o embrião é colocado no útero para que possa se desenvolver de forma saudável.

Injeção intracitoplasmática (ICSI): técnica de procriação medicamente assistida incluída no tratamento de Fertilização in Vitro (FIV). O homem tem de fornecer uma amostra de sémen (ou é-lhe feita uma biopsia testicular) para extrair e selecionar os melhores espermatozoides que serão utilizados para a fertilização dos óvulos.

Doação de ovócitos: a mulher recorre a óvulos de uma dadora para poder conseguir realizar o desejo de ser mãe. Os ovócitos da dadora irão unir-se ao esperma do casal recetor (ou do dador) para obter embriões. Estes serão depois transferidos para a recetora. Esta técnica permite a gravidez em mulheres que, de outra forma, não poderiam ter filhos. O processo de doação é anónimo.

Inseminação Intrauterina (IIU): tratamento relativamente simples e com bons resultados. Consiste na deposição de espermatozoides no interior da cavidade uterina, por meio de um cateter apropriado, quando há ovulação. Para provocar a ovulação, a mulher é tratada com medicamentos indutores da ovulação, normalmente por via injetável. O esperma do homem pode ser tratado, de modo a selecionar os espermatozoides com maior qualidade e capacidade de fecundação.

Estimulação ovárica: em casos em que a infertilidade do casal é devida a um problema ovulatório da mulher, poderá ser recomendada a terapêutica hormonal. O tratamento consiste essencialmente num período de estimulação ovárica, seguido de relações sexuais programadas pelo médico que acompanha o caso.

13. Qual a taxa de sucesso dos tratamentos?

Hoje, a infertilidade já não é considerada, regra geral, irreversível. Atualmente, cerca de 90% dos casais encontra solução para o seu problema graças à procriação medicamente assistida.

14. Quanto custam os tratamentos?

É uma das perguntas mais relevantes, para quem está a pensar fazer este tipo de tratamentos. O preço a pagar para se “fazer um bebé” no privado continua a ser elevado. Não é fácil chegar a um valor médio por ciclo (cada tentativa de gravidez), mas os preçários publicados por várias clínicas revela que são procedimentos caros para a maioria das pessoas. Num centro privado, os preços dos tratamentos podem chegar quase aos 6.000 euros. A este valor há que  somar os gastos com medicação e outros procedimentos necessários. Caso o primeiro tratamento não resulte, há que continuar a tentar, e a pagar.

Só para ter uma noção, uma das técnicas mais utilizadas, a Fertilização In Vitro (FIV), custa entre 3.400 a 5 mil euros. Mas, dentro do arsenal terapêutico atual, o tratamento mais comum é a microinjeção de espermatozoide (na sigla inglesa ICSI), cujo preço ronda os 4 mil euros. A partir dos links que encontra na próxima questão poderá aceder ao preçário de cada clínica. 

Para quem não tem capacidade económica, a única opção é recorrer ao Serviço Nacional de Saúde, que paga os tratamentos para a infertilidade na totalidade. Contudo, existem limitações legais – os hospitais públicos só permitem até três tratamentos e excluem mulheres com mais de 40 anos -além da questão da espera, que pode levar anos. Além disso, os pacientes têm de pagar os medicamentos prescritos que, por ciclo, custam, em média, entre 300 e 400 euros.

15. Onde fazer tratamentos? 

Os tratamentos podem ser feitos pelo Sistema Nacional de Saúde. No entanto, o tempo de espera pode ser elevado. Existem cerca de 30 clínicas privadas a fazer tratamentos de fertilidade em Portugal. A título indicativo, deixamos duas referências por cada zona do país:

Norte

Centro de Genética da Reprodução Prof. Alberto Barros (Porto)

FERTICARE – Centro de Medicina da Reprodução (Braga)

Centro

Ferticentro – Centro de Estudos de Fertilidade (Coimbra)

CLINIMER – Clínica de Medicina da Reprodução (Coimbra)

Lisboa e Vale do Tejo

Hospital Lusíadas (Lisboa)

AVA Clinic (Lisboa)

Sul

FERTIMED – Centro Médico de Reprodução Humana (Faro)

Clínica IVI (Faro)

 

Para terminar, uma recomendação importante. Cada caso é único, tal como cada tratamento. É verdade que são muitos os fatores que podem causar infertilidade, mas, felizmente, são também cada vez mais as técnicas desenvolvidas para combatê-la.