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Saiba como a subida ou descida da Euribor afecta as suas prestações

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Euribor

A pandemia manteve as taxas de juro europeias em valores negativos – já estão assim desde 2015 -, mas a subida da inflação desde meados de 2021 obriga a uma estratégia diferente. O Banco Central Europeu e as instituições bancárias que definem a Euribor estão a preparar o terreno para o aumento das taxas que mais influenciam o custo dos empréstimos à habitação. Não vai ser imediato, até porque as taxas estão inferiores a -0,5% nos principais prazos, mas o efeito nas prestações deve começar a ser sentido em breve. Mas antes de mais, começamos por esclarecer de que taxa se trata.

O que é a Euribor?

A Euribor não é mais do que uma taxa de juro de mercado utilizada pelas instituições financeiras como referência para prestações, dependendo da finalidade de um empréstimo, normalmente para compra de habitação, e se este tem taxa variável. É uma taxa europeia que começou a ser utilizada em 1999, com a entrada em vigor da moeda única, para harmonizar as diferentes taxas dos vários países que adotaram o euro. É definida diariamente por 52 instituições bancárias europeias (onde se inclui a Caixa Geral de Depósitos), sendo o seu valor e alterações – muito influenciadas pelas decisões do BCE – calculados pela média das taxas que os bancos cobram entre si, os financiamentos interbancários.

A Euribor pode ser usada com vários prazos, mas os créditos à habitação estão habitualmente indexados à Euribor a 3 meses, a 6 meses ou a 12 meses. Isto é, o juro que irá pagar ao banco resulta da Euribor mais o ‘spread’ (margem fixa que os bancos cobram, que no fundo é o lucro da instituição bancária), sem contabilizar outras comissões.

Quando é que a Euribor altera as prestações?

Para calcular a prestação da casa não é tida como base a cotação diária da Euribor, mas sim a média mensal desta taxa de juro. Essa é a razão pela qual, quando a Euribor sobe num dia e desce noutro, esses movimentos não têm efeitos imediatos na prestação da casa. Também não adianta fazer logo contas à vida se a média mensal da Euribor caiu ou desceu em abril, se a sua revisão for só em dezembro. Terá de saber os meses concretos e a periodicidade da revisão da sua prestação.

Se tiver a Euribor a 3 meses, significa que o seu contrato é revisto trimestralmente; se é a Euribor a 6 meses, apenas de seis em seis meses; ou então uma vez por ano para uma taxa Euribor a 12 meses. E no mês em que for feita a revisão será tida em conta a média mensal do mês anterior. Ou seja, se a revisão do seu contrato é em outubro, o banco irá calcular a média mensal da Euribor correspondente, mas no mês de setembro.

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As mudanças dos juros são assim tão grandes?

Para quem tem um crédito há muito tempo, as alterações da Euribor já não são propriamente novidade. É normal um crédito a 25, 30 ou 35 anos ter flutuações na prestação ao longo dos anos. Mas os titulares de empréstimos bancários contratados depois de 2015 – e mesmo alguns anos antes disso, quando as taxas Euribor estavam pouco acima de 0% – ainda nunca sentiram essa volatilidade.

É isso que preocupa agora os especialistas financeiros, a existência de créditos no limite da taxa de esforço das famílias, com uma margem muito reduzida ou mesmo nula para acomodar uma subida das mensalidades. Principalmente num cenário de subida do custo de vida que não é acompanhado pelo aumento do rendimento da maior parte das famílias. Na memória de muitos está a crise internacional de 2008, quando a Euribor ultrapassou os 5%.

Na prática, veja qual o efeito da Euribor em três cenários

O impacto da subida das taxas de juro nas prestações – e consequentemente no orçamento de cada um – depende do montante em dívida, da taxa de esforço ou da negociação que se conseguiu para o spread. Ainda assim, assumindo 1% de spread, é fácil verificar o que umas décimas a mais na Euribor podem fazer na mensalidade a pagar ao banco.

Veja uma simulação para três cenários de empréstimo a 30 anos (75 mil euros, 120 mil euros e 200 mil euros), com os juros (spread + Euribor) em 0,5%, 1%, 2% e 3%. O juro mínimo apresentado ‘abate’ ao spread de 1% uma Euribor negativa, a rondar os 0,5%, enquanto os 3% dizem respeito a uma Euribor de 2%. É essa a Euribor – pelo menos – que deve sempre calcular para antecipar se consegue suportar sem grande dificuldade o possível aumento da prestação ao banco.

Com subidas nas mensalidades – graduais, é certo – que chegam a ser de centenas de euros, torna-se evidente a importância de garantir uma taxa de esforço baixa. Os economistas consideram muito improvável que a Euribor volte a atingir os valores de 2008 e, se não houver outras crises ou situações anómalas a nível internacional, a subida das taxas de juro europeias será lenta. Mas 2% é um valor perfeitamente plausível no futuro e, além disso, as descidas das Euribor são tão ou mais lentas do que as subidas.

Portanto, se está a pensar contrair um empréstimo para comprar casa, mais do que nunca, avalie os cenários de subida dos juros.

 

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