Crédito

Qual o peso máximo que os créditos devem ter no meu orçamento

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Se está a pensar pedir um empréstimo para comprar uma casa, um carro, pagar os estudos ou para outra finalidade, saiba que existem vários procedimentos para avaliar a sua situação financeira. 

À partida, até pode pensar que tem capacidade para suportar mais um empréstimo, mas, na realidade, depois de todas as contas serem feitas, pode já estar no limite daquilo que é aconselhável. 

Quando questionados pelo Contas Connosco sobre qual o peso que os créditos devem ter no orçamento, em 586 inquiridos, a grande maioria (400) responde 25%. Em segundo lugar, 107 pessoas dizem que deve ter um peso de 40% e, por último, escolhem a opção 50% (79).

Os portugueses que responderam a um pequeno inquérito realizado nas redes sociais parecem compreender que o peso dos créditos no orçamento deve ser o menor possível ou até inexistente. Ricardo Batista não tem dúvidas em afirmar que “a taxa de esforço deveria ser até um máximo de 40%”. Já Nélson Gonçalves e Miguel Domingues consideram que “não deve ultrapassar os 30%”. Amaro Correia afirma que “por opção” prefere “não ultrapassar os 25%”. Hugo Moreira admite que “deve ser sempre a mais baixa possível”, mas considera que “depende do tipo de crédito” e confessa que “num país com ordenados miseráveis não é fácil”. Gonçalo Cardoso tem a postura mais conservadora: “Eu sou analista de risco e com o tempo fiquei completamente avesso a qualquer tipo de dívida. Como vivo numa casa alugada tenho o prazer de não ter qualquer dívida. Uso apenas o cartão de crédito para pagamentos na internet e pago no fim do mês”. José Simões enumera as várias despesas, além dos créditos, e conclui que têm um peso “no mínimo” de 60% no seu orçamento: “Eu ganho na casa dos 1200€ limpos e tenho gasto, entre casa, água luz e gás 750/800€. E não é mau. Muita gente não consegue sequer pagar um crédito habitação”. 

Neste artigo, explicamos-lhe o essencial sobre a taxa de esforço, as despesas que são incluídas nesta avaliação e que outros fatores são tidos em conta pelas instituições bancárias no momento de concederem um crédito.

O que é a taxa de esforço?

A taxa de esforço é a relação entre os seus rendimentos líquidos (ou do agregado familiar) e as despesas. 

Para que serve a taxa de esforço?

É o indicador utilizado pelas instituições financeiras para avaliar a sua capacidade de contrair empréstimos. A taxa de esforço vai medir o peso dos empréstimos no seu rendimento mensal e se tem ou não capacidade para contrair mais. Conhecer este indicador é importante para compreender a razão pela qual muitas vezes alguns empréstimos não são aprovados.

Quais as despesas contabilizadas na taxa de esforço?

A taxa de esforço inclui as prestações ou créditos contraídos com as entidades financeiras: crédito habitação, crédito automóvel, crédito ao consumo, etc. No entanto, segundo Nuno Filipe, analista financeiro, “uma despesa fixa como o pagamento de uma pensão de alimentos também pode ser considerada neste cálculo”.

O cartão de crédito também é contabilizado na taxa de esforço?

De acordo com Nuno Filipe, “o cartão de crédito é um crédito potencial”, ou seja, apesar de alguém ter um cartão de crédito, não significa que o utilize. Por isso, “normalmente, não entra no cálculo da taxa de esforço”. No entanto, o analista financeiro explica que a existência de cartões de crédito e a forma como são utilizados “serve para os bancos avaliarem o perfil do cliente e se é ou não consumista, ou seja, se gasta mais do que aquilo que ganha”.

Como se faz o cálculo da taxa de esforço?

O cálculo é feito com base nos seus rendimentos líquidos e nas despesas. Pode fazer a simulação aqui. 

De quanto deve ser a taxa de esforço?

As boas práticas financeiras recomendam que o peso dos créditos não deve ultrapassar os 40% do total dos rendimentos. Este é um valor recomendado por especialistas em finanças pessoais, como é o caso, por exemplo, de Bárbara Barroso, fundadora do Moneylab. Ou seja, para quem recebe, por exemplo, 1000 euros, o total das prestações dos créditos não deve ultrapassar os 400 euros. Já para Nuno Filipe, analista financeiro, “a taxa de esforço ideal, para estarmos confortáveis, deve ser de 35% porque os imprevistos acontecem. Por exemplo, em caso de doença, um trabalhador por conta de outrem recebe 65% da segurança social, ou seja, perde 35% do seu rendimento. Para um profissional liberal é ainda pior.” Daqui a importância de ter em conta os imprevistos na definição da taxa de esforço.

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No contexto da pandemia de Covid-19, a taxa de esforço deve ser mais baixa?

Seja em que contexto for, quanto mais baixa for a taxa de esforço, melhor. Esta perspetiva mais conservadora assume ainda maior importância no contexto de pandemia. Na opinião de Nuno Filipe, “quem não fez poupanças, quem esteve em lay-off, quem fez moratórias vai ter muitas dificuldades”. Para o analista, “as moratórias serviram para evitar o descalabro financeiro”. Por isso, “quem soube utilizar bem, quem utilizou para estar desafogado e fazer um fundo de maneio, vai estar tranquilo”. No entanto, considera que “houve muita gente que foi utilizar as moratórias para fazer outros gastos. Por exemplo, os 400 ou 500 euros que deixaram de pagar em prestações, estão a gastá-los noutras coisas, até em viagens”. E, perante este cenário, o analista aconselha: “Acho que devemos aproveitar a vida, o momento, mas ser prudentes”.

O que acontece quando a taxa de esforço é superior a 40%?

Regra geral, a maioria das instituições bancárias e de crédito não concede empréstimos a quem apresenta uma taxa de esforço acima de 40%. Segundo Bárbara Barroso, especialista em finanças pessoais, este é “um dos erros mais assustadores que as pessoas cometem em relação ao dinheiro” e pode mesmo ser “um sinal de alerta para renegociar as dívidas”. Caso contrário, existe “o risco de entrar numa situação de sobre-endividamento”.

No entanto, as instituições financeiras avaliam esta taxa tendo em conta a disponibilidade financeira do cliente. De acordo com Nuno Filipe, “se tiver um rendimento de 2000 euros, com taxa de esforço de 40% sobram 1200 euros”. Na opinião do analista, este “é um valor muito mais aceitável para fazer face a tudo o resto” porque “uma pessoa que ganhe 2000 ou 1000 euros vai gastar, provavelmente, o mesmo valor de água, luz, gás, etc”. Por isso, algumas instituições financeiras consideram até aceitável conceder um crédito a “uma pessoa que ganhe 2000 euros e atinja uma taxa de esforço de 50%”, uma vez que “ainda tem um rendimento disponível de 1000 euros”.

Existem outras despesas que são avaliadas pelas instituições bancárias?

Sim. E, para isso, é necessário entender o conceito de rendimento residual. Segundo Nuno Filipe, depois de ter pago os créditos, o rendimento residual “é a parte que sobra, para fazer face às outras despesas”. Por exemplo, “com um rendimento líquido mensal de 1000 euros e 40% de taxa de esforço, sobram 400 euros para fazer face a tudo o resto: água, luz, gás, alimentação, condomínio, etc”.

Como é que os bancos avaliam a capacidade de um cliente contrair um crédito?

Os bancos ou instituições financeiras pedem vários dados aos clientes para fazer uma avaliação do perfil de risco, tais como o IRS, a nota de liquidação, os recibos de vencimento e a informação disponibilizada pela Central de Responsabilidades de Crédito, muitas vezes conhecida como a “lista negra” do Banco de Portugal, que permite consultar tanto os créditos assumidos como os potenciais. 

Outra variável que os bancos têm em consideração é a capacidade de aforro que o cliente tem, ou seja, de poupança. Idealmente, para fazer face a situações inesperadas, deve ter um fundo de emergência. Só assim, afirma Bárbara Barroso, é possível “assegurar que tem uma rede financeira para um cenário imprevisto”. Segundo a especialista em finanças pessoais, este fundo “deverá ter um valor que represente entre seis meses a um ano das despesas”.