Carro elétrico, porque não?
A procura por veículos elétricos tem vindo a aumentar e até a dar sinais de resistir à crise provocada pela pandemia de Covid-19. Segundo dados da Federação Europeia de Transportes e Ambiente, no primeiro trimestre de 2020, foram vendidos 4.777 automóveis elétricos, dos quais 2.676 eram 100% elétricos. Os dados revelados pela ACAP – Associação do Comércio Automóvel de Portugal – também comprovam a tendência: apesar do setor automóvel ter sofrido uma quebra significativa nas vendas no primeiro semestre deste ano (48,2%), os modelos elétricos, híbridos e plug-in tiveram maior procura – as vendas aumentaram 2,1%.
A verdade é que, entre os portugueses, ainda existem dúvidas sobre estes veículos – desde a autonomia à manutenção, passando pelos custos. E o desconhecimento leva, muitas vezes, a recusar uma opção que, até, pode ser vantajosa. Quando questionados sobre o custo de carregamento de um carro elétrico, os leitores do Contas Connosco dividem-se em número quase igual: 40 pessoas respondem “entre 6 a 7€” e 32 pessoas dizem “entre 10 a 11€”. Em relação aos incentivos à compra destes veículos, 40 pessoas afirmam saber que existem “no valor de 3000€”, mas 43 ainda dizem desconhecer. Quanto à possibilidade de comprarem um carro elétrico, 119 pessoas admitem essa hipótese, mas 132 recusam.
Se tem dúvidas ou precisa de compreender melhor as vantagens e desvantagens de comprar um carro elétrico, o Contas Connosco explica-lhe, neste artigo, tudo o que precisa de saber.
Que tipo de veículos elétricos existem?
Existem veículos 100% elétricos, híbridos e híbridos plug-in.
Quais as diferenças entre os vários tipos de veículos elétricos?
Segundo a Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE), têm as seguintes diferenças:
Veículo 100% elétrico
- Tem como meio exclusivo de propulsão um ou dois motores elétricos alimentados por baterias
- As baterias são carregadas através de uma ligação à rede elétrica
Veículo Híbrido
- Idêntico ao veículo 100% elétrico, mas incorpora um motor extra com outro combustível que serve de gerador para carregar as baterias do veículo em andamento
- Utilizam apenas o motor elétrico como meio de propulsão para se deslocarem
- Tal como no veículo 100% elétrico, as baterias também podem ser carregadas através de uma ligação à rede elétrica
Veículo Híbrido Plug-In
- Além de usar o motor elétrico para se deslocar, utiliza também um segundo motor alimentado por combustível
- Tal como nos veículos 100% elétricos ou híbridos, as baterias podem ser carregadas através de uma ligação à rede eléctrica
Quais as diferenças entre um veículo elétrico e um veículo a combustão?
De acordo com a UVE, existem diferenças a nível de desempenho, manutenção e impacto ambiental entre veículos elétricos e veículos a combustão (ou seja, que utilizam combustível como gasóleo ou gasolina):
Desempenho:
Veículo elétrico
- Atinge a potência máxima logo a seguir à aceleração
- É mais silencioso
Veículo a combustão
- A velocidade progride com a aceleração da caixa de velocidades
- Existe o barulho de funcionamento do motor
Manutenção:
Veículo Elétrico
- Não utiliza óleo no motor
- Existe uma maior poupança de travões e pneus devido ao sistema de travagem regenerativa, que só recorre às pastilhas de travões em travagens bruscas
- Não utiliza velas
- Não precisa de líquido de refrigeração
Veículo a combustão
- Óleo do motor deve ser substituído, em média, a cada 10 mil quilómetros
- Pastilhas dos travões devem ser substituídas, em média, a cada 60 mil quilómetros e pneus a cada 40 mil quilómetros
- Velas do motor devem ser substituídas, em média, aos 50 mil quilómetros
- Líquido de refrigeração deve ser trocado a cada 2 anos ou 30 mil quilómetros
Impacto Ambiental:
Veículo Elétrico
- Não tem emissões de gases poluentes
Veículo a combustão
- Emite gases como dióxido de carbono (CO2), monóxido de carbono, hidrocarbonetos, entre outros
A manutenção de um veículo elétrico é mais barata?
Sim. Um motor elétrico é mais simples do que um motor a combustão. Tal como é possível verificar pela comparação acima, um motor elétrico tem menos peças que precisam de ser substituídas, logo exige menos manutenção e menos visitas à oficina. Além disso, segundo a Blue Academy, um carro a combustão deve fazer uma revisão a cada 15 mil quilómetros, enquanto um elétrico é a cada 50 mil quilómetros. Os custos destas revisões também são bastante diferentes. Num veículo a combustão, a substituição das peças e a manutenção dos componentes mais comuns (filtros de ar, filtros de óleo, pastilhas de travões, etc) pode atingir valores entre os 200 e os 250€, enquanto num veículo elétrico custa uma média de 65€ por ano. Estes valores variam, naturalmente, tendo em conta fatores como a marca e o modelo da viatura, o tipo de motor, os componentes e o respetivo desgaste, o tipo de condução, entre outros.
O veículo elétrico é mais ecológico?
Sim. Os carros elétricos são uma alternativa limpa, uma vez que não usam combustíveis líquidos, como o gasóleo ou a gasolina. Têm baterias que são alimentadas a eletricidade, que por sua vez pode ser proveniente de várias fontes, como o gás natural ou as energias eólica, solar e hídrica. Além disso, não têm emissão de gases poluentes como acontece com os veículos a combustão.
Onde se carrega um carro elétrico?
Segundo a UVE, um veículo elétrico pode ser carregado em qualquer tomada doméstica. Além disso, existe uma rede pública de carregamentos nacional gerida pela empresa MOBI.E e vários outros pontos de carregamento como, por exemplo, os da rede Tesla.
Que tipo de postos de carregamento existem?
Existem Postos de Carregamento Normal (PCN) e Postos de Carregamento Rápido (PCR). São considerados PCN todos os pontos que permitam o carregamento de um veículo elétrico, na via pública ou em espaços privados, até 22 kW. Já os PCR são todos os pontos que permitam o carregamento de um veículo elétrico, na via pública ou em espaços privados, acima dos 22 kW.
Existe ainda uma rede de super carregadores da Tesla, onde só os veículos da marca podem fazer o carregamento. Têm o nome de “super carregadores” porque os postos permitem o carregamento até 150 kWh (3 vezes mais que os PCRs normais).
Onde se encontram os postos de carregamento?
A rede pública de carregamentos nacional gerida pela MOBI.E tem mais de 1250 postos de carregamento em mais de 50 municípios. Aqui pode ver quais são os postos de carregamento mais próximos de si. Para além disso, existem várias aplicações para telemóvel e sites que o ajudam a encontrar os postos de carregamento normal existentes em Portugal e até no resto do mundo. É possível ainda consultar o tipo de fichas disponíveis, a sua disponibilidade e o operador de cada PCN. Quanto aos postos de carregamento rápido, pode encontrar uma lista disponibilizada pela UVE que está em permanente atualização.
Como se carrega a bateria de um carro elétrico?
Além de poder carregar numa tomada doméstica, vai, muito provavelmente, precisar também de aceder aos postos de carregamento públicos. Como tal, para começar a carregar o seu veículo elétrico, precisa de dar alguns passos que, com alguma prática, acabarão por se tornar automáticos, tal como abastecer um carro a combustão.
- Escolher um dos Comercializadores de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica (CEME). Ao aderir a uma proposta comercial, vai receber posteriormente um cartão de acesso a todos os postos de carregamento de acesso público da Rede;
- Com o cartão em mãos, pode dirigir-se a um dos postos MOBI.E;
- Passa o cartão;
- Seleciona o carregamento pretendido;
- Escolhe a tomada;
- Liga a ficha ao veículo;
- Passa o cartão no posto e termina carregamento;
- Retira a ficha do carro;
- E o carregamento está terminado.
É possível ter vários cartões de carregamento?
Sim, pode ter vários cartões de comercializadores diferentes, se for benéfico para si. Até ao momento, os cartões são gratuitos.
Como se faz o pagamento?
Para já, o pagamento só é feito através de fatura emitida pelo Comercializador de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica que escolher. Nesta fatura deverão estar discriminados todos os custos da energia e tarifas de acesso à rede, taxas e impostos. Prevê-se que, no futuro, seja possível pagar diretamente com cartões bancários, mas, para já, essa opção não está disponível em Portugal.
Quanto tempo demora a carregar um carro elétrico?
O tempo que demora a carregar um carro elétrico é muito variável e depende de vários fatores. De acordo com a Blue Academy, o tempo de carregamento varia em função da intensidade da corrente disponível e da potência do carregador do carro.
Já a UVE considera que existem outros fatores que podem influenciar: tipo de veículo (ligeiro, motociclo, ciclomotor, etc); tipo de bateria e nível de carga (diferentes baterias, com diferentes capacidades, influenciam o tempo de carregamento, tal como, se a bateria estiver “vazia” vai carregar de forma mais rápida – até um certo ponto – do que se estiver quase “cheia); tipo de corrente e temperatura (quando a temperatura é extrema – seja frio ou calor – influencia o tempo de carregamento).
Tal como explica a Blue Academy, as baterias dos carros elétricos trabalham com corrente contínua. Por isso, se o carro for carregado com o mesmo tipo de corrente, o processo é mais rápido. Mas, se for com corrente alternada, como acontece no carregamento doméstico, demora mais. Através de uma tomada tradicional, o carregamento poderá levar várias horas, porque a corrente disponibilizada não é sempre a mesma. Na rede pública, num posto de carregamento rápido (50 kW/h), é possível carregar 80% da bateria em menos de uma hora.
Como se carrega um carro elétrico em casa?
Existem várias soluções disponíveis no mercado. De acordo com informação disponibilizada no site da EDP, pode ter uma “tomada casa”, que “permite carregar baterias até 20kWh entre 4 a 8 horas (80% da capacidade)” ou “com um tempo de carregamento entre 5 a 9 horas para 100 quilómetros de autonomia”. Outra alternativa é uma Wallbox, “um posto de carregamento de fácil instalação”, através do qual é possível carregar baterias até 40kWh ou 80kWh em 8 horas, dependendo da potência do posto.
E para quem vive num condomínio?
Também existem soluções que, segundo a EDP, permitem “identificar e controlar os acessos ao carregador, e fazer automaticamente qualquer acerto de contas entre o morador e o condomínio”. Um pormenor importante – tal como lembra a UVE – é informar a administração do condomínio da sua intenção, até porque, por lei, é obrigado a fazê-lo. No site da Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos encontra o decreto-lei que regula esta situação, o guia técnico das instalações elétricas, os requisitos para elaboração do projeto e também uma minuta que pode utilizar para informar a administração do condomínio.
Quanto custa ter um equipamento para carregar o carro em casa?
Os equipamentos podem ser comprados ou alugados. De acordo com os preços divulgados pela EDP, comprar o equipamento custa entre 300 euros, no caso de uma tomada, a 1000€, se for uma Wallbox condomínio. A estes montantes têm ainda de acrescentar o custo da instalação (entre 230 e 300€) e o da visita prévia (50 ou 65€, se o cliente mudar de ideias e não quiser fazer a instalação). O aluguer varia entre os 12,90€ e os 27,90€ dependendo do equipamento. Se viver num condomínio, tem ainda de acrescentar o custo de um comunicador (o aluguer varia entre 15,90 €e 19,90€ e a instalação 115€).
Quanto custa carregar um carro elétrico?
De acordo com a Blue Academy, “o preço total a pagar por um carregamento inclui a tarifa da energia, paga ao comercializador de energia de mobilidade elétrica; a tarifa pela utilização do posto de abastecimento, paga ao Operador do Ponto de Carregamento, e respetivos impostos (IEC e IVA)”. O que significa que “o valor final varia de acordo com o comercializador e operador escolhido” e será cobrado, na totalidade, pelo seu CEME numa fatura mensal.
Ainda existem postos de carregamento públicos gratuitos?
Sim. A rede de Postos de Carregamento Normal (PCN) da MOBI.E começou a ser paga a 1 de julho de 2020, tal como acontece nas estações de serviço. No entanto, ainda existem postos de carregamento semi-públicos – por exemplo, em parques de estacionamento de centros comerciais e supermercados – que são gratuitos.
Se carregar o carro em casa, a conta da eletricidade vai disparar?
Se optar por carregar em casa, é natural que a fatura da eletricidade aumente, mas nada que se compare aos custos que teria com o combustível. De acordo com as estimativas da Blue Academy e, tendo em conta que o custo médio do kWh em Portugal é de 0,2€/kWh, dependendo do tipo de carregamento, eis quanto lhe pode custar carregar um carro elétrico:
- Carregamento em casa com tarifa bi-horária (vazio): 2€/100 km
- Carregamento em casa com tarifa simples: 3€/100 km
- Carregamento em Posto de Carregamento Rápido: 6€/100 km
No mesmo sentido, a EDP afirma que ao carregar o carro em casa “vai sentir um aumento na conta da eletricidade, mas esse aumento será largamente compensado pela descida nos seus gastos de combustível”. Segundo as contas da companhia, “considerando o carregamento de um carro elétrico com o tarifário EDP Comercial, consegue poupar cerca de 30% do seu orçamento com energia quando comparado com o que gasta com um carro a combustão”.
Quanto tempo dura a bateria de um carro elétrico?
Segundo a UVE, uma bateria pode ter uma vida útil de 30 anos, antes de ser reciclada.
Como aumentar o tempo de vida útil da bateria de um carro elétrico?
Segundo a Blue Academy, da Hyundai, deve seguir algumas boas práticas para poupar a bateria de um carro elétrico e prolongar o seu tempo de vida útil:
- Proteger o carro de temperaturas extremas visto que aumentam a deterioração das baterias;
- Evitar o descarregamento total da bateria. Isto faz com que a bateria se degrade e perca a sua capacidade;
- Evitar usar demasiadas vezes os postos de carregamento rápidos. Sempre que possível, privilegie a carga lenta.
É possível fazer viagens longas com carros elétricos?
Sim. A autonomia é, muitas vezes, a principal preocupação de possíveis compradores. No entanto, com o avanço da tecnologia, tem havido bastantes melhorias. Existem modelos, como o smart EQ fortwo, smart EQ fortwo cabrio e smart EQ forfour,que, segundo a marca, têm uma autonomia entre os 130 e os 150 quilómetros ou um Hyundai KAUAI que assegura 449 quilómetros. Por isso, planeie a viagem; identifique onde estão localizados os postos de carregamento (por exemplo, com a ajuda de uma aplicação para telemóvel) e mantenha a velocidade constante, de preferência, abaixo dos 100 quilómetros/hora para a bateria durar mais tempo.
Existem benefícios fiscais para a compra de carros elétricos?
Sim. Através da chamada fiscalidade verde, existem vários incentivos à compra e consumo de veículos elétricos e híbridos. Em 2020, o incentivo à compra de veículos elétricos aumentou para 4.000.000€ (mais 1.000.000€ do que em 2019). Para se habilitar a receber incentivos, tem de fazer uma candidatura e cumprir uma série de requisitos. Para além disso, trata-se de um valor limite, que é distribuído por tipo de veículo e também tem em conta se se trata de pessoa singular ou coletiva. Por isso, se no momento da sua candidatura, o montante já tiver sido esgotado, mesmo que reuna todas as condições necessárias para ser elegível para este apoio, não vai receber.
De acordo com informação disponibilizada pelo Fundo Ambiental, os valores são distribuídos da seguinte forma:
- 2.100.000€ para veículos ligeiros de passageiros adquiridos por pessoas singulares;
- 600.000€ para veículos ligeiros de passageiros adquiridos por pessoas coletivas;
- 900.000€ para veículos ligeiros de mercadorias;
- 350.000€ para bicicletas, motociclos, ciclomotores elétricos e bicicletas de carga;
- 50.000€ para bicicletas convencionais.
Se o valor de alguma das tipologias não se esgotar, o valor que sobra é distribuído pelas candidaturas em lista de espera.
Além do limite por tipo de veículo, cada pessoa também só é elegível para um determinado número de apoios.
Verifique aqui as questões frequentes sobre estes incentivos e tudo o que precisa de saber caso pretenda candidatar-se.
Quais são as desvantagens de um carro elétrico?
Na maior parte dos casos, um veículo elétrico ainda pode ser mais caro do que um veículo a combustão. Além disso, as outras desvantagens apontadas pelos utilizadores são o facto da rede de postos de carregamento ainda ser pouco expressiva (apesar de estar a aumentar), assim como a autonomia. Outra questão já reconhecida por vários setores – como seguradoras, fabricantes automóveis ou mesmo associações – é o facto de os carros elétricos serem muito silenciosos e isso poder representar um perigo sobretudo para pessoas cegas ou de baixa visão. No entanto, em julho de 2019, uma diretiva europeia determinou que os novos modelos terão de incluir um dispositivo de emissão de ruído, acionado sempre que o veículo estiver a uma velocidade abaixo dos 19 quilómetros/hora. Até 2021, todos os novos veículos terão de incluir este dispositivo.