Investimentos

Como reinventar o seu negócio e fugir à crise

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reinventar o seu negócio e fugir à crise

A pandemia provocada pela COVID-19 obrigou-nos, a todos, a uma adaptação a novas realidades, quer familiares quer profissionais. As famílias tiveram de aprender a conciliar o papel de educadoras com o teletrabalho, as crianças disputaram tempo com as obrigações laborais dos pais e muitos negócios passaram boa parte do último ano de portas fechadas, como é o caso do retalho, da restauração e da hotelaria. 

Todos, sem exceção, tiveram de se reinventar e encontrar soluções para manter os seus negócios vivos, mesmo que fosse apenas “à tona de água”. Para alguns, na área da restauração, a solução foi apostar nos serviços de entrega; outros, sobretudo na hotelaria, anteciparam reservas com descontos aliciantes; já no retalho, a venda ao postigo ganhou novas expressões, bem como o recurso às redes sociais e à venda online. Para todos, em geral, a transformação digital foi fundamental.

O crescimento do digital

As empresas que não tinham plataformas digitais ou que não faziam um uso regular e alargado delas, tiveram que fazer esse investimento para assegurarem a proximidade dos seus clientes e, claro, garantirem algum negócio.

De acordo com o estudo “Economia e Sociedade Digital em Portugal”, da Associação da Economia Digital e apresentado no Portugal Digital Summit 2020, no primeiro ano da pandemia, o crescimento do e-commerce no nosso país ultrapassou os 110 mil milhões de euros, reflexo de uma alteração profunda dos hábitos de consumo dos portugueses, movida pelo cenário pandémico.

Segundo este estudo, não só houve um crescimento do número de compradores online, do volume e frequência das suas compras, como isso acabou por reforçar a necessidade das empresas de digitalizarem os seus negócios. Além disto, houve também um reforço das compras online de marcas portuguesas, seja através dos seus sites, redes sociais ou Marketplaces.

O mesmo estudo refere que a percentagem de empresas com presença na internet é agora de 60% do número total de empresas, contra os 40% de 2019 – um crescimento que se deve, sobretudo, à digitalização de pequenas e médias empresas, que até à pandemia não tinham grande expressão na internet.

Novos mercados e novas estratégias

Como referido, em alguns casos e áreas de negócio, o investimento ou o reforço de investimento na digitalização permitiu manter os projetos em funcionamento. Mas em alguns casos até foi possível fazê-los crescer. Foi o caso da Digital Connection, uma agência de marketing digital e de comunicação, que encontrou no Oriente um novo mercado, além de ter conseguido expandir também a sua lista de clientes nacionais. Serviços de consultoria, marketing digital, eventos, media, vídeo e mobile são as valências da empresa de Gonçalo Freitas e João C. Silva que aumentou as receitas 23% em março de 2020, em pleno confinamento, face ao período homólogo de 2019.  Ainda assim, os primeiros tempos após a chegada da pandemia, não foram propriamente otimistas: “No dia 12 de Março fomos todos trabalhar para casa, teletrabalho, uma experiência nova e até ao final do mês, deixámos de ter pedidos de proposta e cerca de 50% dos clientes suspenderam as avenças. Com cerca de 15 pessoas na equipa, começamos a ver um pouco o abismo!”, recorda João C. Silva.

Com os olhos postos no abismo, arregaçaram as mangas e isso permitiu encontrar soluções. “Pensámos que a distância social era significado de “Digital Connection” e que nunca o nosso nome fez tanto sentido, numa altura inesperada, onde toda a gente estava recolhida das suas casas e as únicas ferramentas que tinham à sua disposição eram os canais digitais, as redes sociais. Neste sentido, aproveitámos esta situação para reforçar o nosso posicionamento, fizemos um rebranding à marca, construímos um novo site, ativámos uma campanha de social media com o lema “Social Distancing Means Digital Connection”, começámos a dar formações online e investimos mais em Google Ads, inclusive noutros países, tendo agora uma business developer no Dubai a desenvolver a nossa empresa. No fim de abril, começámos a ter resultados e no final do ano obtivemos a maior faturação desde o início da agência, em 2015”, explica João C. Silva.

Vender por videochamada

A vender mais está também a empresa de José Costa Rodrigues, a Forall Phones, que vende equipamentos recondicionados, como iPhones e MacBooks, assim como os respetivos acessórios. Esta startup que começou por ser meramente digital, tem agora 90 funcionários e lojas físicas espalhadas pelo país e conseguiu evitar sempre o layoff. A Forall Phones viu as suas vendas triplicarem, numa readaptação de sucesso: colocaram um vendedor em videochamada com o cliente final, para conseguir uma proximidade que o encerramento das lojas físicas tinha comprometido, ao mesmo tempo que mostra o equipamento em tempo real ao consumidor.

Peças de cerâmica que contam a história do sucesso

Se os gadgets tiveram ainda mais procura desde o começo da pandemia, o que se justifica com a necessidade de manter o contacto, mas também de entreter, por exemplo, os mais novos, o mesmo já não se pode dizer de peças de cerâmica. À partida, ninguém diria que artigos decorativos artesanais pudessem ter maior procura na pandemia, mas foi o que aconteceu com a Rosa Malva – Atelier. “Em janeiro de 2020 estávamos em plena feira da Maison & Objet, em Paris, com vista à internacionalização da Rosa Malva. Procurávamos novos pontos de revenda que eram, à data, a principal componente da comercialização das nossas peças. E foi ali, naquela semana, que começamos a ouvir as primeiras notícias do que já se passava na China. Dois meses depois, tudo parou. Todas as encomendas, nacionais e internacionais, foram imediatamente canceladas. Todas as lojas fecharam”, recorda Mané Pupo, mentora deste projeto 100% português e artesanal, que conta histórias do quotidiano em peças de cerâmica cheias de memórias e sentimentos.

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Com os espaços físicos de venda encerrados, foi preciso pensar em alternativas depressa, explica Mané Pupo: “Após três dias de pânico, percebemos que não podíamos ficar parados. Não é só a nossa família que depende deste negócio para viver, mas também somos responsáveis por mais pessoas e serviços que dependem de empresas como a nossa para sobreviver. Também tivemos a clarividência de perceber que a pandemia não iria estar resolvida antes do verão, como anunciavam na comunicação social. Por isso, reunimos toda a nossa energia, deixámos de lado o pensamento de passar por isto um dia de cada vez e assim deitámos mão ao único recurso que tínhamos disponível, o digital.”

Assim, a loja virtual cresceu de dia para dia, com a ajuda preciosa das redes sociais. “Dedicámo-nos afincadamente às redes sociais procurando dinamizar a nossa loja online. Até então, as vendas através da nossa loja online representavam cerca de 25% da faturação total. No final de 2020 representavam 65% e a faturação total cresceu 25%.”

Numa altura em que os afetos ficaram comprometidos, as peças da Rosa Malva para o dia da mãe, do pai, para o dia dos namorados, para a Páscoa ou para o presépio de Natal ganharam outra razão de ser. E o negócio cresceu, na opinião de Mané Pupo, fundamentalmente por duas razões: “Por um lado estávamos preparados, no sentido em que a loja online já existia e funcionava bem – o que fizemos foi intensificar a nossa presença ativa nas redes sociais. Por outro lado, os valores da marca são a família, o amor, o carinho e a amizade, que eram exatamente os valores mais sentidos no momento. Criámos o serviço de mensagem personalizada que acompanhava cada uma das peças que eram entregues ao destinatário em apenas 24h. Esse serviço foi um testemunho do quanto as pessoas queriam manter-se ligadas, do quanto os nossos produtos ajudavam a manter essas ligações e fomos assim testemunhas de mensagens maravilhosas que, por vezes, nos fizeram chegar às lágrimas.”

Um negócio que nasceu com a pandemia

Foram também muitas as empresas que aproveitaram o seu know-how e a sua tecnologia para responderem ao nicho de negócio que nasceu com a pandemia, como a venda de máscaras certificadas, óculos de proteção, viseiras, gel desinfetante ou material hospitalar. 

Foi assim que a Inarbel, uma empresa têxtil dedicada ao vestuário de senhora, homem e criança, trocou a criação de novas coleções pela confeção de batas hospitalares, com um tecido impermeável e reutilizável certificado pelo CITEVE. Com isso, conseguiu vender 5.000 batas para a Ordem dos Médicos em Portugal e produziu outras 450 mil para exportação. 

Também a Science4you, conhecida empresa portuguesa de brinquedos científicos e educativos, já produziu cerca de 500 mil litros de álcool em gel e à volta de 400 mil pares de óculos de proteção para profissionais de saúde e outros que estejam em contacto com doentes COVID-19 de alto risco. Este material representou 25% do volume de negócios da empresa no ano 2020. 

Encontrar novas soluções para se adaptarem às necessidades do consumidor foi o que permitiu a continuidade de muitas empresas portuguesas, desde março de 2020. Negócios reinventados que se ajustaram aos tempos e às novas vontades dos clientes, tendo em conta alguns fatores determinantes:

  • Reforçar a presença digital da marca, nas redes sociais e em site
  • Apostar no e-commerce, com plataformas de simples utilização
  • Garantir um regime eficaz de entregas
  • Pesquisar mercados internacionais, como soluções de expansão de negócio
  • Apostar em parcerias com influencers, sobretudo em marcas mais ligadas à moda
  • Encontrar soluções alternativas, como utilizar uma fábrica têxtil para produzir máscaras
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