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Como e porque aumentam os preços durante uma guerra?

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aumento de preços durante uma guerra

Uma situação de conflito armado entre dois ou mais países tem sempre consequências económicas — sobretudo na era da globalização em que as relações comerciais além-fronteiras são muitas. Os bloqueios financeiros e comerciais como forma de sansão e retaliação causam problemas nas cadeias de abastecimento e o clima de incerteza entre investidores origina aumento de preços. Tudo isto tem influência no custo de vida, nos orçamentos familiares e das empresas. Mas não só, também se estende a mercados mais longínquos quando os países em guerra detêm importantes fatias do mercado internacional de uma determinada matéria-prima ou bem essencial.

Nesses casos, mesmo que o mercado internacional procure produtores ou bens alternativos, é inevitável a escalada de preços, não só porque a oferta diminui perante a procura, mas também porque, ao antever-se uma possível escassez, os preços são negociados em alta nos mercados internacionais, que funcionam uma espécie de leilão.

As matérias-primas e custos de produção (a energia, os transportes) têm a capacidade de influenciar o preço final da esmagadora maioria dos produtos e, como consequência, o custo de vida, como se sente no decurso do presente conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

A influência dos combustíveis fósseis na economia

No conflito entre a Ucrânia e a Rússia, a questão dos combustíveis fósseis é uma das que mais influencia os preços em mercados como o português, uma vez que estes bens ditam diretamente o preço de outros. Seja no setor alimentar, como o cultivo de legumes ou a pesca, ou na eletricidade, estamos sempre perante atividades económicas que precisam de alguma forma de combustíveis fósseis e que vão ter de aumentar os seus preços ao consumidor para continuarem a recolher lucro.

O preço dos combustíveis aumentou com o início do conflito porque a Rússia é um dos principais produtores mundiais de petróleo e grande exportador de gás natural para a Europa. Ainda que as primeiras sanções aplicadas pelos países europeus não tenham incluído o rompimento de acordos comerciais relativos a este bem, os mercados começaram a antecipar essa possibilidade e o barril de crude ficou mais caro.

À medida que mais países param de comprar combustíveis à Rússia, é possível que, nas suas economias, isso se traduza num novo aumento dos preços da gasolina e gasóleo, por exemplo.

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Com o aumento de preço de bens essenciais promovido pelo aumento do preço dos combustíveis, vários outros setores de atividade são obrigados a aumentar os seus preços, já que têm agora despesas maiores com a eletricidade, por exemplo, para comportar. É um efeito bola de neve.

Nos cereais e óleos os aumentos já são visíveis

Juntos, Rússia e Ucrânia detêm 29% do mercado global de cereais, 19% do de milho e 80% do de óleo de girassol. Numa situação em que os países em conflito são importantes para o normal funcionamento das transações de um bem essencial, haverá sempre um aumento desse preço ou até uma potencial escassez. Isto porque um país que é palco de guerra não continua a produzir e, mesmo tendo reservas de cereais de campanhas anteriores, não tem as cadeias de exportação a operar — no caso ucraniano, os seus principais portos estão ocupados pela ofensiva Russa.

Dá-se também o caso de um dos países estar a ser alvo de sanções e de, portanto, alguns dos seus bens de exportação não entrarem nos mercados internacionais, o que, mais uma vez, faz diminuir a oferta e aumentar os preços.

No caso dos cereais e das sementes, é importante lembrar que a sua influência económica não se resume apenas ao preço que o consumidor final paga por produtos como o pão. São ingredientes muito presentes em inúmeros alimentos e também integram grande parte das rações para animais de consumo humano. Ao aumentarem os custos de produção, os cereais fazem subir depois os preços da carne, leite, manteiga ou ovos, por exemplo.

Este fenómeno de subida dos preços está a somar-se à inflação histórica que se registou em novembro de 2021, a maior dos últimos 13 anos. A subida generalizada dos preços pode ter influência não só no custo de vida, mas também nas suas poupanças e investimentos. Saiba como neste artigo.

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