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Chamadas de números desconhecidos: os cuidados a ter

6 min
Daniela Cunha
Daniela Cunha
Chamadas de números desconhecidos

Costuma receber chamadas de números desconhecidos e não sabe se é seguro atender? Descubra que práticas de segurança deve adotar.

É provável que já tenha recebido inúmeras chamadas de números desconhecidos ou anónimos. Por vezes, estes telefonemas não representam risco – pode tratar-se de uma transportadora para entregar uma encomenda ou da resposta a uma vaga de emprego -, mas há alturas em que atender pode revelar-se um erro.

As chamadas de spam, em que ninguém responde ou está alguém a tentar vender-lhe de forma insistente um produto ou serviço, são cada vez mais frequentes e bastante incómodas.

Mas se estes telefonemas não são “perigosos”, há casos em que as chamadas são realmente maliciosas e quem está do outro lado tem a intenção de burlar. Saiba que cuidados deve ter para limitar este tipo de ligações e o que deve fazer caso seja vítima de burla.

O que fazer ao receber chamadas de números desconhecidos

Nem sempre as chamadas de números desconhecidos são sinal de burla. No entanto, se não estiver à espera de nenhum telefonema e não se sentir confortável ao atender um número que não conhece, pode ignorar ou rejeitar a chamada.

Depois, pode pesquisar o número na internet ou em aplicações próprias para tentar descobrir quem lhe ligou. Se quiser, pode bloquear o número para não voltar a receber chamadas.

Como identificar chamadas de números desconhecidos

Hoje em dia, já existem vários sites e apps que permitem identificar quem ligou. Os sites funcionam com a contribuição de utilizadores, que registam os números e explicam o motivo do contacto, e só permitem procurar números nacionais. Os mais utilizados são o Ligaram-me; o Tellows; e o Quem me Liga?.

Já as apps são mais completas e, além de permitirem identificar os números (incluindo internacionais), permitem bloquear automaticamente chamadas de contactos que já estão identificados como spam. Entre as mais conhecidas encontramos:

  • Sync.ME (Android e iOS);
  • Truecaller (Android e iOS);
  • NumBuster (Android e iOS);
  • CallApp (apenas Android);
  • Hiya (Android e iOS);
  • WhosCall (Android e iOS).

Estas apps são gratuitas, mas algumas funcionalidades são pagas.

Recebi uma chamada de um número anónimo. Devo atender?

As chamadas sem identificação (ou seja, com número anónimo) podem ser muito incómodas e causar ansiedade, sobretudo se forem frequentes. Nestes casos, pode pedir à sua operadora que bloqueie automaticamente este tipo de chamadas. Contudo, deve ter em conta que todas as comunicações que vierem de um número anónimo serão barradas.

Se quiser, também pode pedir a anulação da confidencialidade do número, durante 30 dias, ao abrigo do artigo 10.º da lei n.º 41/2004. O pedido é feito ao prestador de serviço telefónico, por escrito e devidamente fundamentado. Depois, este solicita um parecer obrigatório à Comissão Nacional de Proteção de Dados.

Ligaram-me de um número internacional. O que devo fazer?

A não ser que tenha família no estrangeiro ou que esteja efetivamente a tratar de algum assunto com alguém de outro país, é muito provável que estas chamadas sejam uma tentativa de burla.

De acordo com a Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM), os burlões fazem apenas um toque no telemóvel, não dando tempo para que a chamada seja atendida. O objetivo é levar o utilizador a devolver a chamada, momento em que será encaminhado para um número internacional ou de valor acrescentado, com custos elevados. Ao retornar a chamada, o utilizador poderá estar a ser cobrado por tarifas elevadas, o que gera lucro para os autores da burla.

Caso tenha um tarifário pré-pago, consegue perceber rapidamente que foi vítima de burla, porque desaparece o saldo do cartão. No caso dos tarifários pós-pago, é possível que só se aperceba da situação passado algum tempo, quando receber a fatura para pagar.

Segundo a ANACOM, os países de origem e os números utilizados para estas fraudes variam, por isso bloqueá-los não resolve totalmente o problema. O que a Autoridade aconselha é que não atenda e não devolva estas chamadas.

Atendi uma chamada de um número desconhecido e ninguém falou. É uma tentativa de burla?

Não necessariamente. São conhecidas como “chamadas mudas” e, como refere a ANACOM, são utilizadas por empresas para vender e divulgar serviços ou para pesquisas de marketing, tendo origem num sistema automático de realização de chamadas em massa, a partir de um call center.

Ou seja, os telefonemas são processados de forma automática e, assim que o cliente atende, o sistema transfere a ligação para um operador do call center. Se todos os operadores estiverem ocupados, ninguém irá responder.

Atendi uma chamada de um número desconhecido e respondeu-me uma gravação automática. O que devo fazer?

Ao contrário das “chamadas mudas”, estas são quase de certeza uma tentativa de burla cujo principal objetivo é ficar a saber os seus dados pessoais. Quando atende o telefonema, do outro lado começa a falar uma gravação automática e a mensagem – a mais utilizada atualmente em Portugal – é quase sempre a mesma: receberam o seu currículo e têm uma oferta de emprego para si.

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O objetivo dos burlões é levá-lo a partilhar informações de contacto. Passadas algumas semanas, alguém que já tem acesso aos seus dados volta a ligar-lhe, desta vez para tentar convencê-lo a investir em plataformas online. Inicialmente, pode até ver o saldo da conta aumentar, mas trata-se de uma manipulação: mais cedo ou mais tarde, o dinheiro acaba por desaparecer.

Também há casos em que estas chamadas servem para os criminosos tentarem descobrir qual é o seu banco. Depois, enviam-lhe links aparentemente inofensivos, como de reposição de password, mas que, na verdade, são maliciosos. Ao terem acesso às suas credenciais, podem movimentar a sua conta bancária à vontade.

Se receber chamadas deste tipo deve, segundo os especialistas em cibersegurança, desligar imediatamente e nunca fornecer nenhuma informação pessoal.

Vishing: as burlas através de chamada telefónica

Em 2020, segundo o relatório do Centro Nacional de Cibersegurança, o vishing foi uma das ciberameaças mais frequentes em Portugal: 43% dos incidentes registados em engenharia social – uma técnica que manipula psicologicamente as vítimas para obter dados pessoais ou bancários – foram casos de vishing.

Muito semelhante ao phishing (que acontece por e-mail), o vishing é um tipo de esquema criminoso em que se tenta extorquir informações pessoais e sensíveis das vítimas através de mensagens de voz ou chamadas telefónicas. Para isso, os burlões fazem-se passar por uma entidade credível (o seu banco ou uma empresa conhecida, por exemplo) e pedem-lhe dados pessoais.

Para evitar ser vítima de vishing, é fundamental que esteja atento a alguns sinais de alerta e que conheça os comportamentos de que deve suspeitar nas chamadas telefónicas:

  • Dizerem que existe algum problema com a sua conta bancária e que precisam das suas credenciais de acesso ou informações sobre os seus cartões;
  • Pedirem para fazer um pagamento urgente, caso contrário fica sem algum serviço, como de internet ou eletricidade;
  • Solicitarem que confirme os seus dados pessoais;
  • Apresentarem soluções de crédito e pedirem os seus dados pessoais para agilizar os processos;
  • Dizerem que ganhou algum prémio e pedirem para confirmar dados pessoais e bancários para o poder levantar.

6 cuidados a ter para não ser vítima de burla

As burlas estão cada vez mais sofisticadas, por isso é fundamental que esteja sempre alerta e que adote cuidados acrescidos para evitar “cair no conto do vigário”.

O Centro Nacional de Cibersegurança recomenda que:

  • Nunca clique em anexos ou linksrecebidos através de mensagens ou e-mails suspeitos (muitas vezes, depois das chamadas telefónicas, os burlões enviam este tipo de mensagens);
  • Confirme sempre a origem do número de telefone do qual lhe estão a ligar. Pode fazer a pesquisa nos sites ou nas apps que indicamos;
  • Nunca partilhe dados pessoais ou siga instruções sem verificar a veracidade do pedido. Se disserem que são do seu banco, por exemplo, desligue a chamada e ligue para o balcão ou para o seu gestor de conta para confirmar se a chamada é verdadeira. Lembre-se que estas entidades nunca pedem códigos de acesso;
  • Não partilhe informações sensíveis nas redes sociais, já que pode estar a fornecer dados a possíveis atacantes;
  • Mantenha-se vigilante e verifique regularmente os movimentos das suas contas bancárias;
  • Não se deixe pressionar nem persuadir por pedidos urgentes (como de pagamento de contas), solicitações autoritárias ou supostas oportunidades imperdíveis.

O que fazer se for vítima de vishing

Se se aperceber que foi vítima de um ataque de vishing, a ANACOM recomenda que apresente queixa junto da Polícia de Segurança Pública (PSP) ou da Guarda Nacional Republicana (GNR), já que pode estar em causa a prática de um crime.

Pode fazer a queixa nos postos da polícia ou online, através do Sistema Queixa Eletrónica. Este serviço foi criado para facilitar a apresentação de denúncias de determinados tipos de crimes – como a burla – à PSP e à GNR.

Em alternativa, também pode contactar diretamente o Ministério Público ou o Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) no tribunal da sua área de residência.

É importante que guarde todas as provas que tiver para ajudar na investigação.

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