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10 destinos nacionais para umas férias mais sustentáveis

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destinos nacionais para umas férias mais sustentáveis

Um estilo de vida sustentável não tira férias. Quando a responsabilidade ambiental se torna uma necessidade óbvia, coloca em perspetiva todas as escolhas, mesmo as que se fazem nos tempos de lazer. E a preocupação ambiental não é sinónimo de privação no descanso — pelo contrário. Estes dez alojamentos portugueses, de norte a sul e nas ilhas, provam que é possível estar num SPA de luxo, num santuário de animais, numa aldeia de xisto ou numa falésia à beira do Atlântico sem magoar o ambiente. Se a sua responsabilidade para com o ambiente o preocupa, descubra as nossas sugestões de locais para gozar umas férias mais verdes, de norte a sul de Portugal, sem esquecer as ilhas.

Para se tornar um turista cada vez mais responsável, siga ainda cinco dicas para umas férias mais ecológicas.

CEPO VERDE, Serra do Montesinho

À primeira vista, o Cepo Verde pode parecer um comum parque de campismo, com lugar para tendas e autocaravanas. Também é. Contudo, tem um alojamento ecológico inovador e patenteado em Portugal: cabanas rotativas. Estas casinhas em madeira estão entre a tenda e o bungalow e a sua posição pode mudar ao longo do dia para otimizar a luz solar e o conforto térmico do espaço. Lá dentro vive-se no despojamento, com espaço para pouco mais além da cama e uma mesa. De resto, nos três hectares do Cepo Verde, a contemplação do Parque Natural do Montesinho é tudo. Esta antiga povoação romana é um lugar privilegiado para a observação de aves e plantas do nordeste transmontano e ganha uma nova cor nas alturas da apanha da castanha e da cereja.

CERDEIRA — HOME FOR CREATIVITY, Serra da Lousã

A aldeia da Cerdeira estava completamente abandonada quando, aos 24 anos, em 1988, Kerstin Thomas a descobriu. Estudava em Coimbra e instalou aqui o seu ateliê. O sonho de reabilitar as casas em vez de construir novos alojamentos neste vale a 700 metros de altitude na Serra da Lousã foi-se tornando cada vez mais real. Primeiro organizou, com três amigos, festivais de artes, e em 2018 inaugurou o turismo rural sustentável ligado à criação e formação artística. Há diversos workshops que podem ser marcados durante a estadia, da olaria e cerâmica à encadernação artesanal. Além disto, a paisagem da serra do centro do país é uma lista interminável de atividades, dos trilhos, aos passeios de bicicleta e BTT, não esquecendo os percursos de canyoning. Para haver uma sintonia com o lugar, a reconstrução das nove casas foi feita com técnicas antigas, pelos trabalhadores locais que as conhecem, usando essencialmente materiais abundantes na zona, como o xisto. Tanto o projeto de arquitetura como as práticas ecológicas valeram a este turismo de aldeia a Ecolabel, atribuída pela União Europeia.

QUINTA DO VALE DA LAMA, Lagos

A zona de Odiáxere, como outras do interior algarvio, sente hoje a ameaça da desertificação. A proposta da Quinta do Vale da Lama é, por isso, escolher uma agricultura que regenere os solos, em vez de os desgastar. Boa parte do terreno está dedicado à agrofloresta, que mistura, num caos organizado, árvores autóctones e resistentes à seca, com pomares e hortas. Ovelhas, burros e galinhas têm o seu papel na limpeza e fertilização do solo e o ciclo de produção fecha-se com a loja e a cozinha do Vale da Lama, onde se compram (e comem) os cabazes de produtos. Os hóspedes integram-se neste ciclo regenerativo da terra, entre idas à piscina ou passeios de bicicleta pelos lagos e veredas que rodeiam a propriedade. A Meia-Praia está a 30 minutos de carro, mas as ciclovias do Algarve convidam a adotar as duas rodas: é uma oportunidade para experimentar um pequeno troço da Ecovia do Litoral algarvio.

ECO SOUL ERICEIRA, Ericeira

Para ficar junto à praia de São Julião, perto da vila da Ericeira, é preciso gostar de natureza — da parte da natureza que é neblina, água fria a ondas rebeldes. É bom estar pronto para abraçar este bucolismo e, no Eco Soul Ericeira, enfrenta-se o ocasional mal-estar da meteorologia nos terraços privativos com vista sobre o mar. Este pequeno hotel de cinco quartos foi pensado de raiz para ser um porto de descanso e para ter o mínimo impacto sobre o ambiente que o envolve. A arquitetura aproveita a orientação do sol para aquecer o edifício e permite usar biomassa para o aquecimento de caldeiras e radiadores. As casas de banhos, como os terrenos, não conhecem químicos: foram revestidas a materiais como o microcimento, que dispensam químicos na sua manutenção. A água da chuva não só é aproveitada como cria um dos aspetos mais singulares de cada quarto: um chuveiro — literalmente. É a chuva que alimenta um sistema de duche ao ar livre. Se há uma névoa, nem se nota.

RIO DO PRADO, Óbidos

Os alpendres deste boutique hotel em Óbidos são mais ou menos salas de espetáculo. Estão virados para poente e, portanto, ao final do dia, convidam a sentar numa das espreguiçadeiras e assistir ao pôr-do-sol. Dentro das 15 suites, a preguiça continua: têm lareira interior e banheira de relaxamento e, no quarto mais requintado, há ainda um mini-spa, com banho turco, sauna e zona de massagens. O luxo cruza-se com as preocupações ambientais e a lista de grandes e pequenos gestos que fazem deste um alojamento sustentável é extensa, desde a construção bioclimática, à plantação de árvores de folha caduca junto das janelas do edifício, fazendo sombra no verão e deixando passar a luz no inverno. A reutilização de materiais na construção e decoração está por todo o Rio do Prado, inclusive no restaurante Maria Batata, onde as mesas são de resíduos de madeira. No meio do pomar e da horta do alojamento, as refeições constroem-se com produtos criados mesmo ali à beira (ou em outras produções biológicas) e a probabilidade de serem cozinhados numa fogueira ao ar livre é grande.

BIOVILLA, Serra da Arrábida

Esta cooperativa sem fins lucrativos acredita que é possível satisfazer todas as necessidades humanas sem penhorar o futuro. É só preciso viver de forma regenerativa. Em pleno Parque Natural da Serra da Arrábida, entre Setúbal e Palmela, este projeto recusa denominações como “ecoaldeia” ou “ecovillage”. A Biovilla é, há vários anos, muito além dos alojamentos: um projeto de permacultura e sustentabilidade que olha para o turismo, a educação para a natureza em regeneração e a agricultura sustentável de forma integrada. Compreende-se mais facilmente esta filosofia no terreno de 55 hectares da Biovilla, entre a serra e o mar, num dos quatro quartos do alojamento ou com os pés na piscina panorâmica. A proposta é de completa imersão nesta zona protegida, onde a construção quer ser pouco invasiva, feita a partir de madeiras recicladas, equipada com painéis solares e capaz de recolher a água das chuvas para rega.

SANTA BÁRBARA ECO RESORT, Ribeira Grande, São Miguel, Açores

Beleza natural de tirar o ar, verde por todo o lado, uma vaca por habitante, em média. No caso dos Açores, os preconceitos são justos e os alojamentos deste arquipélago fazem, cada vez mais, um esforço para os manter assim. O Santa Bárbara Eco Resort, na Ribeira Grande, ilha de São Miguel, é um bom exemplo da hotelaria que tenta minimizar o seu impacto nas ilhas vulcânicas. A arquitetura confunde-se com a paisagem pela forma como aproveita os desníveis do terreno, ao invés de os reformular, e usa materiais locais, como a criptoméria, e nacionais, como a cortiça. A construção e os painéis fotovoltaicos são aliados da eficiência energética e os telhados captam água da chuva, usada, mais tarde, nos terrenos, para uma melhor gestão dos recursos hídricos. Esta boa dose de tecnologia não transforma, no entanto, este resort ecológico numa assética casa do futuro. Pelo contrário. Estas villas para estadias em família com privacidade têm todo o conforto de um hotel de luxo, da piscina com vista para o Atlântico ao jacuzzi privativo. A praia de areia também está à distância de uma caminhada.

QUINTA ALEGRE, Calheta, Madeira

Na Calheta, esta quinta fica a escassos minutos da floresta Laurissilva, Património Mundial da UNESCO, e isso dá-lhe uma responsabilidade acrescida. O sistema fotovoltaico cobre 50% do consumo total de energia. Nos meses de inverno, a lareira que aquece os espaços comuns também vai aquecendo a água usada no edifício e, na hora de regar os jardins, usa-se água reciclada através de um tratamento biológico feito no hotel. A sustentabilidade é a filosofia de vida a transmitir quando se está na pérola do Atlântico e, por isso, os hóspedes da Quinta Alegre podem pedir emprestados (em alguns casos, há alguns custos acrescidos) bicicletas e carros elétricos para explorar a ilha. A levada da Calheta é aqui à beira e, no caso de querer entrar mundo natural dentro, pode combinar uma das visitas guiadas pelos responsáveis do hotel, entusiastas de caminhadas.

QUINTA DAS ÁGUIAS, Paredes de Coura

É um santuário de “animais em necessidade”, da flora selvagem e uma espécie de arca de Noé de sementes raras e autóctones. O respeito pelos recursos e por todos os seres vivos é uma missão ao ponto de a Quinta das Águias, em Rubiães, se ter constituído como organização sem fins lucrativos para o acolhimento, nos seus cinco hectares, de cavalos, porcos, ovelhas e diversas aves. A alimentação vegetariana completa a filosofia da minhota Ivone e do holandês Joep, que querem salvar animais da panela: para Joep, o chef de serviço, a comida não deve causar sofrimento e deve ser saborosa.

A hospedagem de turistas é, como se vê, só uma das vertentes deste projeto, que satisfaz quem quer entrar numa interação direta com a natureza e os animais. Aqui dorme-se, entre centenas de árvores, na Casa de Hóspedes, uma casa típica da região, recuperada e com três quartos (pode ser alugada na totalidade), e na Casa do Pavão, um antigo celeiro ideal para quatro pessoas onde a companhia de pavões é habitual. Não estranhe se não pegar mais no carro durante a estadia neste éden minhoto.

CHÃO DO RIO, Serra da Estrela

Neste turismo de aldeia a 15 minutos de Oliveira do Hospital, o galinheiro é portátil. Não se carrega debaixo do braço, mas guia-se pelo terreno e, assim, as galinhas estão sempre a comer e a remexer zonas diferentes do solo, evitando o seu desgaste. O percurso deste galinheiro que abastece os hóspedes de ovos frescos todas as manhãs contorna as nove casas do Chão de Rio. É possível que, de relance, nem as distinga da natureza, já que estão camufladas pelos telhados de colmo, tirado aos terrenos nas épocas de limpeza.

No sopé da Serra da Estrela, o Chão do Rio concretiza o sonho de Rodolfo e Catarina Vieira viverem, com as filhas, na natureza. Os hóspedes podem ter a ilusão de também terem uma vida no campo, já que todos os alojamentos são casas independentes, afastadas e com vista sobre os 300 metros quadrados de piscina biológica, uma espécie de lago artificial, onde o que regula a temperatura e limpeza da água são as plantas e os animais — isto significa, sim, uma oportunidade para nadar com rãs. Em redor, este casal está a plantar e ver crescer um bosque de árvores autóctones e a incentivar viveiros de vida selvagem: pode caminhar-se entre zonas húmidas, como o brejo das libelinhas, e ser surpreendido pelos abrigos para lebres e coelhos selvagens ou fazer massagens à sombra dos carvalhos.

5 dicas para umas férias mais ecológicas

  1. Prefira os transportes públicos, como os comboios, e nas localidades ande a pé ou de bicicleta
  2. Se vai cozinhar durante as férias, privilegie os mercados e produtos locais. Se quer trazer alguma recordação, escolha o artesanato da região
  3. Opte por viajar para zonas com menor pressão turística. Não só vai descobrir destinos menos conhecidos, como não contribuirá para o desequilíbrio da região
  4. Em sua casa troca de toalhas e lençóis diariamente? Não, pois não? Então não o faça nos hotéis
  5. Troque todos os bilhetes, reservas, mapas e certificados em papel pelas versões digitais

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